Impressões finais: temporada de outono (2025)

Estamos encerrando 2025 com uma temporada que se mostrou relativamente morna. Nesta postagem vocês poderão conferir nossas impressões finais de Egao no Taenai Shokuba desu., Saigo ni Hitotsu dake Onegai shitemo Yoroshii deshou ka, Wandance, Watashi wo Tabetai, Hitodenashi e Yano-kun no Futsuu no Hibi.

Egao no Taenai Shokuba desu. [Mari]

Dos títulos estreantes na temporada Egao no Taenai Shokuba desu. foi facilmente o meu favorito. Apesar de terem me chamado de emocionada no meio do caminho, eu continuo defendendo minha posição. EgaTae pega uma premissa que já foi explorada dezenas de vezes antes — como é o cotidiano de uma mangaká — e a torna especial com um núcleo de personagens carismáticas e multidimensionais. A protagonista Futami-sensei, ao lado de sua assistente Ha-san e sua editora Satou-san, é quem evidentemente recebe o maior tempo de tela, mas há diversos momentos dedicados a outras personagens, como a belíssima Touko-san, a competente Nekonote-san e até mesmo a insuportável da Nashida-san. Todo episódio é uma confusão diferente e não dá tempo de sentirmos um segundo de tédio sequer.

Eu confesso que a quantidade de personagens que a autora Kuzushiro quis explorar em um curto espaço de tempo talvez tenha sido um pouco demais. Não sei se eles correram com a história para caber todo mundo nesses treze episódios (visto que uma continuação é improvável) ou se no mangá é assim também. De qualquer forma, eu acho que valeria a pena haver um foco individual maior em cada personagem em vez de simplesmente pular de uma para a outra quando um novo arco se inicia. Principalmente depois de já terem gastado tanta energia com a Nashida-san…

Enfim, EgaTae cumpre aquilo que promete. Embora as coisas nunca sejam fáceis para a Futami-sensei, ela é genuinamente apaixonada pelo que faz e é graças ao apoio daqueles ao seu redor que ela consegue continuar perseguindo seus sonhos. De certa forma, EgaTae me parece ser uma carta de amor de Kuzushiro para si mesma.

Em termos técnicos, como eu havia mencionado nas minhas primeiras impressões, a adaptação é competente. Eu gosto principalmente do design das personagens e das vozes que foram escolhidas para trazê-las à vida. O estúdio Voil nunca deixa a peteca cair e mantém uma animação consistente do começo ao fim, ainda que nada particularmente seja de encher os olhos. Eu certamente amaria assistir a uma continuação, mas mesmo que isso não venha a acontecer, fico feliz com o carinho que a obra de uma das minhas mangakás favoritas recebeu.

9.0/10

Saigo ni Hitotsu dake Onegai shitemo Yoroshii deshou ka [Plinio]

Sabe aquele conhecido seu, que com apenas duas long neck é capaz de te entreter com as maiores bizarrices já ditas fora do ambiente de mensagens privadas? A criatividade emana da libertação dos limites, e tudo aquilo que é falado após um “e se […]” pode ter potencial. Isso não significa que a criatividade do orador seja ilimitada, e em muitos casos toda a ideia pode acabar em apenas uma frase. É sustentando por meio desta corda bamba que acompanhamos Saigo ni Hitotsu dake Onegai Shite mo Yoroshii Deshou ka, ou abreviado para SaiHito.

O anime gira em torno de Scarlet, uma garota da nobreza que possui aptidão em golpes físicos, e precisa treinar o autocontrole para não sair socando a primeira pessoa que enche sua paciência. Similar à ideia de One Punch Man, as pessoas não resistem a seus golpes, muitas vezes acabando com os oponentes com apenas um soco. O começo da história é até interessante, pois o contraste entre a personalidade calma de Scarlet e seu estado de sadismo depois de desferir o primeiro soco cria uma sensação de personagem poderosa, que consegue controlar seus adversários com um simples olhar. Com o fim do primeiro ato, toda a personalidade controlada de Scarlet desaparece, se transformando em uma pessoa mais irracional. Suas ações impactam os planos de Terenezza, e a partir de então, ela começa a tentar se vingar de Scarlet.

Igual todo anime do tema “me tornei a vilã”, isso só vale para justificar que as ações da protagonista não são requintadas e politicamente corretas. Os animes mais famosos deste tema são Hamefura, Akurasu, Tsunlise, Akuyaku Lvl 99 e LasTame. Assisti praticamente todos, logo, minhas impressões ficam contaminadas com o que já veio antes. Quanto mais simples a proposta e mais ambicioso é o escritor, maior é a incidência de recursos narrativos pouco explicados. O principal ponto negativo de SaiHito é a quantidade de poderes e habilidades criadas em momentos de necessidade, o famoso Deus Ex-Machina, sem coerência alguma. E também os adversários são tão caricatos que todos possuem cenas introdutórias com apresentação de seus nomes junto a um título, como “Jarmou, o Ogro” ou “Michelin, o Estrategista”. Isso não seria um problema, se para todos os momentos a direção optasse por construir uma cena que evoque a comédia, o que não me pareceu o caso.

Ainda assim, considerando os animes citados anteriormente, SaiHito possui uma qualidade. A sensação de história linear (com começo, meio e fim) é clara. Você não termina o anime com a sensação de que algo aconteceu fora de ordem ou que um fato novo foi gerado espontaneamente apenas para fazer a história andar. Além disso, o romance da história é pouco dominante, fazendo com que o lado legal da Scarlet não seja ofuscado por personagens masculinos tomando o protagonismo. Bem, não posso dizer que isso é indubitável, já que em algumas cenas cômicas a fala do príncipe atravessa a da protagonista, como se fosse uma voz de tradução das vontades da Scarlet. Isso me irrita demais, então não foi fácil deixar de notar. De qualquer modo, compreendo que a ideia de SaiHito é criativa, mas todo o restante é absurdo. Mesmo que você esteja convencido de que é para ser uma comédia e não um anime de ação, romance ou de conspirações políticas, fica difícil sustentar tantas piadas sem graça.

5.5/10

Wandance [Mari]

Wandance é, em seu núcleo, um anime sobre hobby. E como todo anime de hobby, tem que a ver um motivo para que os personagens queiram iniciá-lo. Aqui, o protagonista Kabo resolve dar uma chance à dança após conhecer Wanda e descobrir que ele leva jeito para a coisa, ainda que seja um iniciante. Kabo é um rapaz tímido que sofre com gagueira, mas a dança o transforma de uma maneira em que ele consegue se expressar como nunca o fez antes, e isso lhe ajuda a desenvolver autoconfiança e uma imagem mais positiva de si mesmo. As dificuldades de Kabo não desaparecem magicamente, porém ele também não está mais preso à sua condição. Ela existe, mas não é mais uma “desculpa” para ele fugir de novas oportunidades e experiências.

Particularmente, eu acho curioso que Wandance leve o nome da personagem Wanda no título quando ela na verdade tem pouquíssimo desenvolvimento próprio na história. Sim, foi a dança dela que conquistou Kabo, mas nós não a conhecemos muito para além do fato de que ela ama dançar e faz isso desde que se entende por gente. Dito isso, explorar o Kabo foi a escolha que a direção fez — talvez no mangá a Wanda receba a atenção que merece. Há alguns outros personagens interessantes como On, a presidente do clube de dança do qual o Kabo participa, e Iori, o único outro rapaz do clube. Mas, de novo, a escrita deles não vai muito além de “vejam como eles são incríveis!”. Quando pareceu que eles teriam algum desenvolvimento próprio o anime acabou.

Em geral, Wandance tem boas músicas e uma animação OK. Sim, mesmo com o CGI feio, eles conseguem transmitir os passos e os níveis de dificuldade das apresentações até para uma leiga como eu. A adaptação poderia ter sido melhor? Certamente. Mas isso significa que tudo que foi feito até aqui tem que ser jogado no lixo? Jamais. Wandance não estará na minha lista de animes preferidos do ano, mas também não estará na lista do “era melhor ter visto o filme do Pelé.”

7.0/10

Watashi wo Tabetai, Hitodenashi [Ana]

Minha relação com Watashi wo Tabetai, Hitodenashi é complicada, talvez porque eu realmente tenha tentado gostar mais da história, já que minhas primeiras impressões não foram tão positivas. Posso dizer que houve certa evolução ao longo dos episódios, mas, ainda assim, isso não foi suficiente para me conquistar completamente.

Acredito que um dos maiores problemas da obra seja o tom melancólico constante, que parece não oferecer qualquer saída para isso. Os flashbacks e as revelações sobre o passado de Hinako e Shiori ajudam a compreender melhor por que Hinako está afundada em depressão e por que Shiori a salvou do acidente que vitimou sua família e, desde então, passou a protegê-la de outros yokais, para, no fim, devorá-la, ainda que metaforicamente. Entendo que o desconforto seja intencional, já que a depressão é muito bem retratada, assim como o desejo pela morte coexistindo com a falta de forças para cometer suicídio e como Shiori, que também é movida pela solidão, surge contraditoriamente como uma salvação, mas apenas no “momento certo”. Ainda assim, não fica claro qual mudança Shiori espera de Hinako, nem que tipo de relação as duas de fato desenvolveriam, apenas que devido aos acontecimentos do passado, essa relação já estava predestinada a acontecer. Além disso, a sensação é que quando finalmente parecia ter algum desenvolvimento entre as duas, o anime simplesmente acaba.

No fim, a sensação é de uma história arrastada, que tinha potencial para um desenvolvimento mais consistente, mas que fica difícil de se envolver, especialmente porque os personagens também não são particularmente carismáticos. Miko, a amiga que descobrimos ser também uma yokai, rouba a cena em alguns momentos e é frustrante perceber como ela poderia ser uma companhia menos tóxica para Hinako, mas ainda assim, se nem todos os anos em que esteve ao seu lado, também a protegendo, foram suficientes para que desenvolvesse alguma coisa, dificilmente isso aconteceria agora com a presença de Shiori.

No geral a animação é competente, mas sem nada de excepcional. O destaque vai para a trilha sonora e a equipe de dublagem, em especial a Reina Ueda, que conseguiu transmitir muito bem a melancolia da Hinako, mas também para Yui Ishikawa e Ai Fairouz, como Shiori e Miko, respectivamente. Como alguém que aprecia o gênero, o desenvolvimento da história acaba sendo um pouco decepcionante. Entendo que o gosto amargo deixado ao final seja proposital, mas justamente por isso não é uma obra que eu recomendaria a qualquer pessoa.

6.5/10

Yano-kun no Futsuu no Hibi [Ana]

Sinto que não estava preparada para me despedir. Yano-kun no Futsuu no Hibi foi leve e divertido, com bons personagens e um visual agradável. No entanto, fica a sensação de que, justamente quando o cenário estava bem estabelecido, o anime chegou ao fim, sem oferecer um desfecho mais completo ou sanar totalmente nossas curiosidades.

Pode-se dizer que a obra apresenta um desenvolvimento um tanto lento, explorando as situações cotidianas de Yano, Yoshida e seus colegas de classe. Os sentimentos entre os protagonistas vão sendo descobertos e trabalhados aos poucos, mas nada muito grandioso acontece entre eles até o final. Isso não chega a ser um problema, já que o percurso foi divertido de acompanhar. Sabemos que a proposta é propositalmente simples, afinal, o próprio título pode ser traduzido como “os dias comuns de Yano-kun”. Nesse sentido, é interessante a mensagem de que mesmo essas situações cotidianas têm valor, especialmente porque o crescimento do protagonista ocorre ao confiar nas pessoas ao seu redor e, gradualmente, tornar-se um pouco menos introvertido.

Além de Yano e Yoshida, a obra também explora de forma interessante os personagens ao redor. Apesar de Hashiba demonstrar claramente um interesse romântico por Yoshida, ele acaba construindo uma boa relação com Yano (a ponto de brincarmos que Yano tem sua namorada e seu namorado). Tanaka e Yuzukawa estão ali mais para “botar lenha na fogueira” do que qualquer outra coisa, mas são bastante divertidos. Ao longo dos episódios, também somos apresentados a um possível interesse de Izumi por Hashiba, embora esse ponto não seja muito explorado.

Desde o início, sabemos que Yano está sempre se machucando e, embora isso continue acontecendo ao longo da história, fico feliz que esse recurso não tenha sido usado de forma exaustiva. Senti que a narrativa demora um pouco para abordar o motivo do Yano usar o tapa-olho, mas a introdução da ex-colega do ensino fundamental e a explicação acabam surgindo em um bom momento. Talvez a intenção seja mostrar que, assim como as pessoas ao redor de Yano, nós, como espectadores, não deveríamos nos importar tanto com isso. Ainda assim, é inevitável que esse detalhe desperte curiosidade e, apesar de ser explicado, o desfecho acaba sendo um pouco frustrante. Se o motivo é apenas a diferença de cor entre os olhos, talvez fosse interessante um encerramento mais significativo, como ele deixar de usar o tapa-olho. Afinal, para alguém que já é naturalmente desastrado, enxergar apenas com um olho e consequentemente perder a noção de profundidade não parece muito vantajoso. Não sei se esses aspectos são melhor desenvolvidos em um ponto mais avançado do mangá.

Apesar disso, é um anime bastante cativante que recomendo sem dúvidas para quem gostar de romance e slice of life com essa atmosfera mais leve e não se importar com a ausência de grandes acontecimentos.

8.0/10

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