Com o fim da temporada de outono, mais um ciclo vai se encerrando. O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais esquisitos que já vivemos. Torço para que em 2021 as coisas voltem a se normalizar com a vacinação da população mundial.
Nesta postagem vocês encontrarão as nossas impressões finais de Adachi to Shimamura, Ikebukuro West Gate Park, Majo no Tabitabi, Major 2nd 2nd Season, Taiso Samurai e Yuukoku no Moriarty.
Adachi to Shimamura [Lucy]
Confesso que sou meio alérgica a slow burn, o que deve ter prejudicado meu aproveitamento do anime. Eu já tinha presumido que esse seria um romance devagar, mas ele conseguiu exceder minhas expectativas. Chega a ser engraçado, porque enquanto uma das meninas é a própria definição de gay desastrosa que desconhece sutileza, a outra está na vigésima camada da heteronormatividade e não consegue reconhecer os gestos extremamente óbvios da amiga. Tenho que admitir que a vergonha alheia bateu pesada em alguns momentos.
Apesar desse ritmo, um positivo do anime é que as meninas apresentam desenvolvimento pessoal. Adachi pouco a pouco toma coragem para ser mais assertiva e se comunicar melhor, mesmo que tropece bastante no caminho. Em alguns momentos, a assertividade dela começa a se traduzir como possessividade, e não há tempo o suficiente para trabalhar essa questão. É um ponto interessante a ser levantado numa possível segunda temporada, porque de fato ela ainda precisa melhorar muito nesse aspecto. Shimamura, enquanto isso, reflete um pouco mais sobre suas escolhas de vida e acredito que ao final da história, aprendeu um pouco sobre se abrir para os outros (mesmo que só para Adachi, até o momento). De fato, são desenvolvimentos que têm muito a ver com o relacionamento central, mas conseguem se soltar um pouco dele. Gosto de ver isso em romances — as personagens crescendo para além do casal.
Outro ponto positivo é que Adachi to Shimamura é um anime bem bonito. As cores são muito suaves, trazendo uma atmosfera próxima ao de um sonho tranquilo. Adorei algumas escolhas da direção, como o céu refletido no chão do primeiro e último episódios, enquanto outras…
Eu mencionei a questão da male gaze do primeiro episódio, e agora concluo que deve ser uma mania específica de algum dos diretores de episódio. Alguns episódios assisti tranquilamente, enquanto em outros revirei os olhos pela frequência dos shots mais sensuais, especialmente nos momentos mais nada a ver possíveis. O resumo é que existe uma quantidade considerável de fanservice aqui, e dependendo da sua resistência a isso, o anime pode acabar sendo uma experiência desconfortável.
Se você adora um romance bem lento, do tipo que te faz querer gritar com os personagens, e não tem nenhum problema com as ressalvas que citei, então creio que Adachi to Shimamura vá te agradar. Mas se você é como eu, teremos que aceitar: pode até ser fofinho, mas esse anime não é pra gente.
6.0/10
Ikebukuro West Gate Park [Lucy]
Ikebukuro West Gate Park é igual a quando você é calouro na faculdade e quer fazer todas as eletivas possíveis, mas obviamente não tem tempo. É quando você tem 12 anos, acabou de assistir Durarara!! e quer fazer seus próprios personagens nesse mundo (apesar de a novel original de IWGP ser a inspiração de DRRR!!, e não vice-versa). É quando você é um cara de 40, 50 e tantos anos, e tenta escrever uma história para jovens… e falha miseravelmente na tarefa.
Em momento algum eu consegui levar esse anime a sério.
Apesar de eu não ter esperado por uma abordagem episódica, isso não é uma sentença de morte imediata. É possível fazer um bom anime nesse formato… só que IWGP tem um sério problema de pacing. Perdi a conta de quantas vezes fui ver quantos minutos faltavam pro final de um episódio e falei “como que eles vão resolver isso tudo nesse tempo?”. Eles sempre conseguiam, mas o problema que mencionei lá no primeiro episódio (conclusão anticlimática) foi uma constante da série.
O motivo principal disso é que o enredo quer fazer uma crítica maneira e comentar sobre a sociedade japonesa contemporânea, mas ele não consegue escolher um tema e se firmar nele. Ele atira para todos os lados, mas tem uma mira péssima. Tópicos são mencionados no início do episódio para serem completamente esquecidos um ou dois minutos depois. O que pesa mais, no entanto, é o tom que essa pseudo-crítica é aplicada.
IWGP tem uma energia fortíssima de boomer. É a maneira mais perfeita com que consigo resumir o anime. É uma série repleta de mensagens estilo “esse pessoal de hoje em dia, hein?” ou “crianças, não façam isso” — ressaltadas pelo fato de que os próprios personagens, um monte de marmanjos enormes, falam que são crianças. Só que o tiro sai pela culatra, porque como alguém na faixa de idade dos personagens (o público com quem eles queriam falar), eu só consigo olhar e rir. Era melhor ter só feito uma porradaria de gangue, porque ainda sairia melhor, e a falta de profundidade dos personagens estaria justificada.
Merchandising social à parte, o resto do anime também não se salva. Quando ele tenta puxar um enredo, ele enfia um plot twist sem sentido algum, do qual não havia indicação qualquer nos episódios anteriores. O pior é que isso acontece duas vezes em doze episódios. A animação… é ok? Nada de especial, mas também não se destaca negativamente. O resumo da história é que o estúdio Doga Kobo deveria continuar focando em animes mais leves e simples, porque aparentemente é o que fazem de melhor.
Pra ser sincera, se eu não estivesse assistindo semanalmente com a equipe do Rukh, talvez eu não tivesse chegado ao final da história. O mais triste é que esse não é o tipo de anime “tão ruim que fica bom”. Tampouco me fez passar raiva, ou foi aquele negócio que eu “amo odiar”. É simplesmente medíocre. Tão medíocre que chega a ser doloroso.
4.0/10
Majo no Tabitabi [Ana]
Eu fui até conferir o que eu havia dito nas minhas impressões iniciais de Majo no Tabitabi, e não pude deixar de achar incrivelmente engraçado que eu disse, em tom de brincadeira, que esse seria o melhor anime da temporada. Bem, minha opinião mudou um pouco, mas isso não quer dizer que acompanhar a jornada de Elaina, literalmente, tenha sido menos intenso.
O anime ao longo dos seus 12 episódios, em que Elaina, como viajante, visitava diversos locais, encontrando e conhecendo uma diversidade de pessoas e experiências, despertou emoções bastante distintas. Os episódios iam desde semelhantes aos primeiros: leves, divertidos e bem gays a outros que ao terminar deixaram sensações de “ótimo episódio, saí com depressão” ou “tem situações que o sofrimento é a única opção mesmo”, mas acredito que esses, no geral, foram bem contrabalanceados com os demais. Nesses episódios em si, por mais que em alguns momentos as atitudes da protagonista possam ser questionáveis, já que ela age muito mais como uma espectadora do que como uma heroína, ela calcula se alguma intervenção de sua parte pode ser, de fato, benéfica e em alguns casos ela tem uma participação ativa e ainda assim, não consegue evitar que a desgraça ocorra.
Como comentado, Elaina conhece diversas pessoas durante a sua jornada, mas dentre os personagens, eu trago um destaque especial para, além da Fran já citada nas impressões iniciais, a Sheila e as interações entre essas duas, em que ambas tem personalidade forte e até se rivalizavam desde o passado, mas que depois não teve como a gente não shippar hahaha…
Embora minhas expectativas tivessem sido levemente quebradas com essa mudança de episódios leves para outros mais sombrios, eu diria que o último episódio em si, depois de tudo, foi algo que eu realmente não esperava. Nele, Elaina encontra com outras 15 personalidades dela mesma. Sim, é uma loucura, e a esse ponto eu só desliguei o meu cérebro e tentei não levar esse episódio muito a sério, embora o final talvez tenha deixado um possível gancho para uma segunda temporada.
No geral, foi um anime agradável de acompanhar, a animação e os cenários se mostraram um pouco inconstantes em alguns momentos, mas nada que interferisse muito na experiência. Pelo que eu vi, apenas uma pequena parte do material original foi adaptado durante essa temporada, então existe o que ser adaptado caso ocorra uma continuação, embora não se saiba quais as reais chances disso acontecer.
8.0/10
Major 2nd 2nd Season [Mari]
Podemos dizer que a produção da segunda temporada de Major 2nd não ocorreu exatamente como a equipe havia planejado. Devido à estreia na temporada de abril, quando o clima pandêmico era muito mais incerto do que hoje, Major 2nd foi uma das primeiras obras a sofrer com as consequências do Covid-19, tendo sua transmissão interrompida em dois momentos diferentes. O que era para ser uma adaptação de dois cours que duraria seis meses acabou se estendendo por nove. No entanto, apesar das pausas inesperadas, a equipe conseguiu contornar muito bem os problemas gerados pela pandemia.
Em uma conversa com o Kevin do SakugaBlog, logo após o lançamento do último episódio da série, eu perguntei sobre a produção do estúdio OLM em Major 2nd e a possibilidade de uma terceira temporada, ao que ele me respondeu com as seguintes palavras: “Pelo que pude perceber, [a produção] foi bem administrada, fazendo uso inteligente do estoque – é importante ser capaz de fazer isso perfeitamente em animes de esporte. Os comentários de hoje da equipe também foram geralmente satisfeitos, o que é um bom sinal. Major é um grande negócio, então eu não ficaria surpreso com uma continuação”. Sendo assim, eu gostaria de dar os meus parabéns ao estúdio, por ter oferecido boas condições de trabalho aos seus funcionários mesmo em meio a uma pandemia, e à equipe por ter sido capaz de entregar uma excelente adaptação, ainda que com alguns atrasos. No fim, todos os seus esforços valeram a pena!
Como eu havia mencionado nas minhas primeiras impressões do anime, a segunda temporada teve um upgrade enorme em termos técnicos: a animação se mostrou mais fluida, o character design ficou mais bonito e a trilha sonora se destacou mais. Tudo isso, somado ao elenco de personagens carismáticos ao qual fomos apresentados e à história de Mitsuda Takuya, consolidou Major 2nd 2nd Season como um dos melhores títulos do ano pra mim. Eu não diria que o autor é um revolucionário do gênero, afinal, estruturalmente Major 2nd é muito parecido com o que vemos em outras obras de esporte por aí. A questão é que aquilo que o Takuya faz, ele faz muito bem, e Major 2nd teve o diferencial de explorar personagens femininas em um esporte tão dominado por homens. O autor mostra que de fato existem diferenças físicas entre garotas e garotos, mas isso não significa que elas sejam inferiores na prática do esporte, pois mera força física não é o suficiente para que alguém se torne um campeão do beisebol. As garotas enfrentam problemas com os quais os garotos não sofrem, mas isso não as faz desistir do esporte que tanto amam, mesmo que às vezes elas fiquem balançadas ao se depararem com certas barreiras.
Outro ponto interessante abordado pelo autor é o desenvolvimento do próprio protagonista, que não é nem de longe o “padrão” que se espera de um jogador de beisebol, a começar pela sua baixa estatura e pouca resiliência mental. Daigo sofre não só com as expectativas impostas pela imagem de seu pai, um grande craque do beisebol, mas também com aquelas que ele mesmo impõe sobre si e seus colegas de time. Quando confrontado com uma lembrança traumática e consumido por sua ansiedade, ele chega a ter um caso de hiperventilação. Daigo não é como Goro – e nem seria interessante que ele o fosse. Como o pai, ele também tem um caminho de superação a percorrer, mas ao contrário de Goro, que era quase um exército de um homem só, Daigo será o líder de um time que em meio as adversidades não perde a fome de vencer. Com o gancho deixado no final da temporada – Fuurin finalmente terá um técnico – eu realmente espero que tenhamos uma continuação. Estou ansiosa para ver como será o último ano desses garotos e garotas juntos (já que a partir do ensino médio times mistos não são mais permitidos). Avante, Fuurin!
10/10
Taiso Samurai [Lucy]
Eu tinha esperanças para Taiso Samurai desde o início, mas ainda assim foi minha surpresa da temporada. Me diverti bastante com a série, e posso afirmar que ela conseguiu atravessar com tranquilidade a corda bamba das comédias dramáticas.
Minha maior ressalva com a série, no entanto, não é exatamente culpa dos produtores em si — mas o enredo teria se beneficiado bastante de alguns episódios a mais. Os personagens fora do núcleo central (Jotaro e sua família) tiveram pouquíssimo tempo de tela, assemelhando-se a figurantes ou simplesmente plot devices ambulantes. Destaco que ao contrário do que a abertura e as imagens promocionais façam parecer, o Minamino não é o terceiro protagonista. Passei o anime todo esperando o momento que ele seria trabalhado, até que acabou a história e eu continuei sem saber muito sobre o menino.
Nessa mesma linha, no entanto, levanto um positivo: a série realmente brilha muito mais quando o foco está em Rei, a filha do protagonista, do que quando está tratando de ginástica e competições. A menina acaba caindo um pouco naquela trope de “criança super competente e mais madura que os adultos”, mas eles chegam a trabalhar isso (uma surpresa positiva!). Num geral, na verdade, os momentos mais divertidos são carregados por Rei, Leonardo e as pessoas com quem eles interagem.
Isso não quer dizer que o resto não é aproveitável. Demora um pouco para engrenar, mas o foco maior em competições nos últimos episódios não parece brusco nem desagradável. Na verdade, é bem equilibrado com o drama pessoal de Leonardo — que apesar de bastante exagerado com a presença dos agentes internacionais e os títulos extravagantes, consegue ter o peso apropriado para entregar uma conclusão satisfatória.
Em resumo, Taiso Samurai é uma série divertida para assistir quando você não tem mais o que fazer. Tem uma produção competente, o que me parece quase inacreditável vendo o quão ocupado o estúdio MAPPA tem andado, e o resultado final é bastante agradável. Não é uma história épica que vai te marcar por um tempão, mas também não deve te dar a sensação de “ai, poderia estar vendo algo melhor”.
7.0/10
Yuukoku no Moriarty [Mari]
Eu diria que Yuukoku no Moriarty é o tipo de anime que faria o otaku médio, reacionário e metido a capitalista, perder a m*rda dele, mas parece que apesar de o mangá estar sendo lançado no Brasil, Moriaty não está exatamente na boca do povo. Ainda assim, com uma produção sólida por parte do Production I.G e um enredo intrigante, que questiona o status quo da Grã-Bretanha do século XIX e se mostra veementemente contra o sistema de classes, Yuukoku no Moriarty certamente esteve no meu Top 5 desta temporada.
O anime é composto por mini-arcos. Embora tenha começado com um caso aparentemente aleatório, do segundo episódio em diante ele segue uma estrutura narrativa mais ou menos linear. Assim, aprendemos sobre o passado e as motivações de Moriarty, o protagonista, e seguimos os primeiros casos por sua perspectiva. Mais tarde, quando Sherlock Holmes é de fato introduzido na história, os holofotes momentaneamente mudam de direção, mas logo se estabelece qual será o embate que ocorrerá entre essas duas mentes brilhantes.
De maneira geral, eu diria que Yuukoku no Moriarty é bem escrito, porém o autor peca em alguns momentos: nem todos os casos são bem desenvolvidos e alguns até parecem ter uma conclusão meio forçada, além de os vilões serem bastante caricatos. Para um anime que explora a nuance do bem e do mal, do certo e do errado, da justiça e da vingança, o autor não parece muito interessado em mostrar que seus vilões são tão humanos e “cinzas” quanto os seus protagonistas. É legal ver pessoas escrotas se f*dendo, então a gente deixa passar, mas certamente este é um aspecto que poderia ser melhorado.
O último episódio acaba com um gancho para o próximo arco, que será explorado na segunda metade do anime, já confirmada para a primavera de 2021. Estou ansiosa para ver os rumos que Moriarty e Sherlock irão tomar.