Review | Ansatsu Kyoushitsu: a turma de assassinos que é o que parece, mas não exatamente

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Esse texto foi originalmente postado em 30 de junho de 2016
A primeira vez que eu ouvi falar sobre o anime de Ansatsu Kyoushitsu (ou Assassination Classroom, em inglês) foi na época que a primeira temporada já tinha alguns episódios lançados. Várias pessoas haviam comentado sobre como o mangá era bom e o hype em torno do anime era relativamente grande também. Fiquei curiosa e fui ler a sinopse.
Confesso que em um primeiro momento achei a proposta bem estranha, e por essa razão não me empenhei em acompanhá-lo. No entanto, conforme o tempo foi passando, mais comentários foram surgindo e eu comecei a ver alguns screenshots no Twitter, de modo que a animação colorida e chamativa foi capaz de prender minha atenção. Ficando cada vez mais intrigada, decidi dar uma chance ao anime depois que a primeira temporada acabasse de ser lançada.
Nesta review vou tentar explicar por que Ansatsu Kyoushitsu é uma obra tão interessante, mesmo que em um primeiro momento pareça ser bem simplista.
Comecemos pela sinopse e a ficha técnica.
Ansatsu Kyoushitsu
Gênero: Ação, Comédia, Escolar, Shounen
Episódios: 22 (primeira temporada) + 25 (segunda temporada)
Estúdio: Lerche (Danganronpa, Gakkougurashi)
Material: Mangá 
Sinopse (HacchiFansub): A turma dos exilados da Escola Ginasial Kunugigaoka, a Turma “E”, é apresentada a uma figura bem estranha, um alienígena em forma de polvo, que a partir de então, será seu o novo professor! Para piorar, esse alienígena foi o responsável por destruir 70% da Lua e pretende destruir o planeta Terra no próximo mês de março, mas antes, ele irá treinar todos os alunos da Turma “E” para uma missão bem peculiar: ensiná-los a assassiná-lo antes do mês de março.
Considerações: O estúdio Lerche foi criado em 2011, portanto ainda é relativamente novo na indústria. Por ser um estúdio de pequeno porte, não tendo muitos títulos em sua conta, eles precisam trabalhar com o baixo orçamento que têm. Apesar disso, a animação é bem feita e, como disse antes, tem alguns pontos que chamam a atenção, como a diversidade de cores e os detalhes que aplicam às cenas mais tensas.
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Civil War é para os fracos
Ansatsu Kyoushitsu foi dirigido por Kishi Seiji, que também foi diretor das adaptações de Angel Beats! e Hamatora. A equipe ainda conta com Makoto Uezu (Akame ga Kill!, Arslan Senki) na composição da série e Naoki Sato (Eureka Seven, Stranger: Mukou Hadan) como responsável pela trilha sonora.
Além disso, o ponto mais alto da adaptação é, provavelmente, o voice acting (atuação dos dubladores). Koro-sensei é dublado pelo talentosíssimo Fukuyama Jun (Lelouch de Code Geass, Shinra de Durarara!!), que exerce seu papel de um jeito que fica difícil imaginar outra pessoa fazendo-o. Fora essa, também há algumas outras atuações que merecem ser destacadas, como por exemplo:
• Okamoto Nobuhiko (Obi de Akagami no Shirayuki-hime, Usui de Kaichou wa Maid-sama), que consegue capturar perfeitamente a natureza provocadora de Karma;
• Hayami Show (Aizen de Bleach, Tokiomi de Fate/Zero), que consegue passar o ar de superioridade e certeza de Gakuhou;
• Miyano Mamoru (Light de Death Note, Rin de Free!) como Gakushuu, que dispensa comentários;
• Itou Shizuka (Koko de Jormungand, Yayoi de Psycho-Pass), que consegue expressar um ar de maturidade com sua voz, caiu como uma luva na personagem Irina;
• E, por fim, Sugita Tomokazu (Reishi de K, Gintoki de Gintama), demonstrando toda a firmeza de sua voz com o personagem Karasuma.
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Essas caras do Gakushuu (esquerda) e do Karma (direita) os definem todinhos.
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Em tempo: O OTP é maravilhoso. Não é mesmo, Karasuma?
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Irina?

Finalmente, deixando de lado as considerações técnicas, vamos à obra propriamente dita. Primeiramente, permitam-me explicar o título que dei a esta análise: por que a turma de assassinos seria o que parece, mas não exatamente? Bem, a partir do momento que lemos a sinopse, já temos a noção de que o objetivo central de Ansatsu Kyoushitsu é apenas um: o assassinato do Koro-sensei.

Quando paramos para pensar que o ambiente em que as tentativas de assassinato ocorrerão é uma sala de aula, consequentemente um grande número de personagens estará envolvido. Essa observação me levou a pensar que o desenvolvimento dos personagens e as tentativas de assassinato teriam que ser executados cuidadosamente, pois do contrário o anime poderia se tornar chato. Pensem comigo: se o anime assumisse uma natureza episódica, onde o foco fosse apenas as tentativas de assassinato, chegaria um momento em que ficaríamos cansados de assistir sempre a mesma coisa. Embora não se possa perder o objetivo de vista, é preciso trabalhar com aquilo que o cerca também, é preciso ter um “algo a mais”.

Por essa razão, eu acredito que o autor foi muito feliz com o desenvolvimento de seus personagens. Ansatsu Kyoushitsu não trata somente de uma missão para salvar a Terra; é muito mais do que isso. A obra nos traz reflexões, ela nos faz questionar o sistema que estamos inseridos.

Em Kunugigaoka, há um sistema de ensino que pode ser considerado extremamente cruel para quem está de fora. Os estudantes vivem em uma competição que, ao contrário do que se espera, não é saudável. O diretor só está preocupado em formar os melhores estudantes possíveis, os mais “fortes”, pisando naqueles que possuam dificuldades ou não tenham nenhum talento especial. Gakuhou trabalha com a ideia de sacrificar uma minoria pela maioria. Por mais que seja um ambiente fictício, é possível trazer uma reflexão para a vida real, pensar no nosso próprio sistema de ensino. Ele contempla as pessoas que têm dificuldades, seja lá quais forem? As escolas estão preocupadas em ensinar os estudantes realmente, ou só querem a maior taxa de aprovação que for possível nos vestibulares? Valores como respeito ao próximo, trabalho em equipe, estão sendo repassados ou aquilo pelo que passamos é somente um processo de aprendizado mecânico? Estamos construindo um senso crítico próprio ou apenas fazemos parte de um exército de mão de obra não pensante?

Matsu Yuusei (autor da obra) acertou em cheio quando decidiu desenvolver seus personagens individualmente, mas também como um grupo. Ele nos mostra como cada um tem seus pontos fortes e fracos, como o esforço é recompensado, e como em grupo conseguimos atingir alturas que não seriam possíveis se estivéssemos sozinhos.

O mundo lá fora é cruel, é verdade, mas é possível tornar seus estudantes fortes de modo que eles não precisem passar por cima dos outros, e o Koro-sensei nos mostra isso. O conflito entre as maneiras diferentes de ensinar do Koro-sensei e do Gakuhou é um dos pontos interessantes a ser discutido.

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“Como eu poderia ensinar qualquer pessoa se não crescesse e aprendesse todos os dias?
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“Precisarei saber de tudo

Embora alguns personagens recebam mais screentime do que outros, todos eles possuem algum tipo de backgroundou conflito interno, e é muito legal ver como as dificuldades são superadas ao longo do tempo.

Portanto, sim, a Turma “E” realmente é o que parece (uma turma de assassinos em treinamento), mas não exatamente, porque não é só a questão do assassinato que a obra irá explorar.

Além do desenvolvimento dos personagens e a exploração das questões citadas acima, a atmosfera de Ansatsu Kyoushitsu é bastante agradável. Apesar de haver momentos de tensão, os episódios possuem um tom mais leve em que há comédia e este tom os torna divertidos de assistir, assim como as cenas de ação, que são bem executadas.

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“Será que devemos juntá-los?”
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“Você está tão quieta…”

Também é interessante destacar que Ansatsu Kyoushitsu se diferencia do tipo de obra que estamos acostumados a encontrar no gênero escolar. Quero dizer, quando você imaginaria que uma criatura que se assemelha a um polvo e tem superpoderes seria seu professor? E mais: ainda está ameaçando a destruir a Terra!

Outra coisa que gostei enquanto acompanhava o anime foi ver como a relação entre estudante e professor se desenvolveu. Tenho certeza que todos vocês já tiveram um professor que foi capaz de mudar a vida de vocês, no sentido de transformá-los em pessoas melhores, mais críticas, mais empáticas; assim como também já devem ter tido professores que foram um pé no saco e parecia que apenas queriam acabar com a raça de vocês.

Vale mencionar, ainda, que no início do anime muitas perguntas nos passam pela cabeça. Afinal, quem é o Koro-sensei? Como ele ficou daquele jeito? Por que ele está ameaçando destruir a Terra? Por que escolher aquela turma específica? Mas todas elas são respondidas ao longo da série. É legal ver como o autor desperta a nossa curiosidade, faz com que pensemos e criemos teorias, mas que saibamos que em algum momento nossas dúvidas serão sanadas.

No mais, o anime foi bem fiel ao mangá, embora alguns cortes tenham sido feitos para poder encaixar toda a história no limite de episódios.

Ansatsu Kyoushitsu é uma obra que você começa sem ter a menor ideia do que esperar. O tempo passa e você ainda não sabe muito bem para onde a coisa está indo. Quando você se dá conta, já desenvolveu um carinho especial pelos personagens (eles que fazem grande parte da história, sendo possivelmente o ponto mais alto dela) e se divertindo a cada novo episódio.

Particularmente achei a primeira temporada OK (a nota mais justa provavelmente seria um 7/10), enquanto a segunda temporada me conquistou um pouquinho mais (fecharia com um 8/10), embora ela tenha brincado com os meus sentimentos algumas vezes…

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“Como um papai orgulhoso.”
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(cantando parabéns pro Koro-sensei)

Não é nenhum masterpiece, não sei se atingiu as expectativas de quem acompanhou a obra original ou se o hype do começo era realmente justo, mas na minha experiência pessoal, é definitivamente um anime que vale a pena assistir, isto é, desde que você curta uma comédia misturada com ação, alguns momentos tensos e uma atmosfera de slice of life de vez em quando.

Por fim, apenas gostaria de deixar aqui o seguinte:
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Todo dia é um 7×1 diferente
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E até o Japão zoa a gente.

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