
Estúdio: Lerche (Danganronpa, Gakkougurashi)
Material: Mangá




Finalmente, deixando de lado as considerações técnicas, vamos à obra propriamente dita. Primeiramente, permitam-me explicar o título que dei a esta análise: por que a turma de assassinos seria o que parece, mas não exatamente? Bem, a partir do momento que lemos a sinopse, já temos a noção de que o objetivo central de Ansatsu Kyoushitsu é apenas um: o assassinato do Koro-sensei.
Quando paramos para pensar que o ambiente em que as tentativas de assassinato ocorrerão é uma sala de aula, consequentemente um grande número de personagens estará envolvido. Essa observação me levou a pensar que o desenvolvimento dos personagens e as tentativas de assassinato teriam que ser executados cuidadosamente, pois do contrário o anime poderia se tornar chato. Pensem comigo: se o anime assumisse uma natureza episódica, onde o foco fosse apenas as tentativas de assassinato, chegaria um momento em que ficaríamos cansados de assistir sempre a mesma coisa. Embora não se possa perder o objetivo de vista, é preciso trabalhar com aquilo que o cerca também, é preciso ter um “algo a mais”.
Por essa razão, eu acredito que o autor foi muito feliz com o desenvolvimento de seus personagens. Ansatsu Kyoushitsu não trata somente de uma missão para salvar a Terra; é muito mais do que isso. A obra nos traz reflexões, ela nos faz questionar o sistema que estamos inseridos.
Em Kunugigaoka, há um sistema de ensino que pode ser considerado extremamente cruel para quem está de fora. Os estudantes vivem em uma competição que, ao contrário do que se espera, não é saudável. O diretor só está preocupado em formar os melhores estudantes possíveis, os mais “fortes”, pisando naqueles que possuam dificuldades ou não tenham nenhum talento especial. Gakuhou trabalha com a ideia de sacrificar uma minoria pela maioria. Por mais que seja um ambiente fictício, é possível trazer uma reflexão para a vida real, pensar no nosso próprio sistema de ensino. Ele contempla as pessoas que têm dificuldades, seja lá quais forem? As escolas estão preocupadas em ensinar os estudantes realmente, ou só querem a maior taxa de aprovação que for possível nos vestibulares? Valores como respeito ao próximo, trabalho em equipe, estão sendo repassados ou aquilo pelo que passamos é somente um processo de aprendizado mecânico? Estamos construindo um senso crítico próprio ou apenas fazemos parte de um exército de mão de obra não pensante?
Matsu Yuusei (autor da obra) acertou em cheio quando decidiu desenvolver seus personagens individualmente, mas também como um grupo. Ele nos mostra como cada um tem seus pontos fortes e fracos, como o esforço é recompensado, e como em grupo conseguimos atingir alturas que não seriam possíveis se estivéssemos sozinhos.
O mundo lá fora é cruel, é verdade, mas é possível tornar seus estudantes fortes de modo que eles não precisem passar por cima dos outros, e o Koro-sensei nos mostra isso. O conflito entre as maneiras diferentes de ensinar do Koro-sensei e do Gakuhou é um dos pontos interessantes a ser discutido.


Embora alguns personagens recebam mais screentime do que outros, todos eles possuem algum tipo de backgroundou conflito interno, e é muito legal ver como as dificuldades são superadas ao longo do tempo.
Portanto, sim, a Turma “E” realmente é o que parece (uma turma de assassinos em treinamento), mas não exatamente, porque não é só a questão do assassinato que a obra irá explorar.
Além do desenvolvimento dos personagens e a exploração das questões citadas acima, a atmosfera de Ansatsu Kyoushitsu é bastante agradável. Apesar de haver momentos de tensão, os episódios possuem um tom mais leve em que há comédia e este tom os torna divertidos de assistir, assim como as cenas de ação, que são bem executadas.


Também é interessante destacar que Ansatsu Kyoushitsu se diferencia do tipo de obra que estamos acostumados a encontrar no gênero escolar. Quero dizer, quando você imaginaria que uma criatura que se assemelha a um polvo e tem superpoderes seria seu professor? E mais: ainda está ameaçando a destruir a Terra!
Outra coisa que gostei enquanto acompanhava o anime foi ver como a relação entre estudante e professor se desenvolveu. Tenho certeza que todos vocês já tiveram um professor que foi capaz de mudar a vida de vocês, no sentido de transformá-los em pessoas melhores, mais críticas, mais empáticas; assim como também já devem ter tido professores que foram um pé no saco e parecia que apenas queriam acabar com a raça de vocês.
Vale mencionar, ainda, que no início do anime muitas perguntas nos passam pela cabeça. Afinal, quem é o Koro-sensei? Como ele ficou daquele jeito? Por que ele está ameaçando destruir a Terra? Por que escolher aquela turma específica? Mas todas elas são respondidas ao longo da série. É legal ver como o autor desperta a nossa curiosidade, faz com que pensemos e criemos teorias, mas que saibamos que em algum momento nossas dúvidas serão sanadas.
No mais, o anime foi bem fiel ao mangá, embora alguns cortes tenham sido feitos para poder encaixar toda a história no limite de episódios.
Ansatsu Kyoushitsu é uma obra que você começa sem ter a menor ideia do que esperar. O tempo passa e você ainda não sabe muito bem para onde a coisa está indo. Quando você se dá conta, já desenvolveu um carinho especial pelos personagens (eles que fazem grande parte da história, sendo possivelmente o ponto mais alto dela) e se divertindo a cada novo episódio.
Particularmente achei a primeira temporada OK (a nota mais justa provavelmente seria um 7/10), enquanto a segunda temporada me conquistou um pouquinho mais (fecharia com um 8/10), embora ela tenha brincado com os meus sentimentos algumas vezes…


Não é nenhum masterpiece, não sei se atingiu as expectativas de quem acompanhou a obra original ou se o hype do começo era realmente justo, mas na minha experiência pessoal, é definitivamente um anime que vale a pena assistir, isto é, desde que você curta uma comédia misturada com ação, alguns momentos tensos e uma atmosfera de slice of life de vez em quando.


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