Review | Natsume Yuujinchou: uma caminhada em direção ao autoconhecimento e aceitação

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Esse texto foi originalmente publicado em 3 de setembro de 2016.
Uma das nossas maiores expectativas para o próximo mês é a quinta temporada de Natsume Yuujinchou, intitulada “Natsume Yuujinchou Go“. Embora a série tenha feito bastante sucesso no Japão (o suficiente para conseguir tantas temporadas), dificilmente vejo pessoas comentarem sobre ela por aqui. Talvez seja porque a primeira temporada tenha sido lançada em 2008 ou talvez porque o anime se trata de um shoujo (e as pessoas costumam ter preconceito com essa demografia…), mas o fato é que Natsume Yuujinchou não recebe o merecido reconhecimento.
Pensando nisso, decidi escrever essa análise – incluindo as quatro temporadas do anime – com a esperança de motivá-los a assisti-lo e de repente até mesmo acompanharem a quinta temporada conosco. Começarei pela ficha técnica e as devidas considerações, depois discorrerei sobre os pontos interessantes da obra.
Natsume Yuujinchou
Gênero: Drama, Fantasia, Slice of Life, Sobrenatural
Episódios: 13 (primeira temporada) + 13 (segunda temporada) + 13 (terceira temporada) + 13 (quarta temporada)
Estúdio: Brain’s Base (Durarara!!, Baccano!)
Material: Mangá
Ano de Lançamento: 2008
Diretor: Omori Takahiro (Durarara!!, Baccano!)
Sinopse: Embora a maioria dos garotos de quinze anos, de um jeito ou de outro, mantenham segredos relacionados a garotas, Takashi Natsume possui um segredo peculiar e assustador envolvendo youkais: desde que ele consegue se lembrar, ele tem sido constantemente perseguido por esses espíritos. Natsume logo descobre que sua falecida avó Reiko havia deixado para ele o Yuujinchou, ou “Livro de Amigos”, o qual contém os nomes dos espíritos que ela colocou sob seu controle. Agora nas mãos de Natsume, o livro dá ao neto de Reiko os mesmos poderes também, o que faz com que esses seres raivosos passem a caçá-lo na esperança de adquirir sua liberdade de alguma forma.

Órfão e sem um lugar que ele possa chamar de lar, sendo constantemente caçado por esses youkais hostis e cruéis, Natsume procura por consolo – um lugar ao qual ele pertença. Entretanto, sua única companhia é o seu autoproclamado guarda-costas de nome Madara. Carinhosamente chamado de Nyanko-sensei, Madara é um espírito misterioso em forma de felino, o qual possui seus próprios motivos para permanecer ao lado do garoto.

Baseado no mangá aclamado pela crítica de Yuki Midorikawa, Natsume Yuujinchou é um slice of life inconvencional e sobrenatural que conta a história de Natsume enquanto ele e seu protetor infame Madara se empenham para libertar os espíritos vinculados ao contrato de sua avó.

Tecnicamente falando, não tenho reclamações a fazer quanto a Natsume Yuujinchou. A animação pode até dar uma escorregada aqui ou ali, no entanto, ao longo dessas quatro temporadas ela permaneceu sólida e manteve um certo padrão de qualidade; a direção de Omori Takahiro, conhecido principalmente pelo seu trabalho com Durarara!!, foi muito bem feita; a trilha sonora é realmente gostosa de ouvir (com destaque para os temas de abertura e encerramento). Minha música preferida é a primeira abertura, que pode ser conferida no player abaixo:

 

Além disso, também temos um cast cheio de dubladores talentosos, como por exemplo: Kamiya Hiroshi (Araragi de Bakemonogatari, Izaya de Durarara!!) como NatsumeNoto Mamiko (Sheele de Akame ga Kill!, Mavis de Fairy Tail) como AsagiKimura Ryouhei (Hachiken de Gin no Saji, Bokuto de Haikyuu!!) como NishimuraSawashiro Miyuki (Celty de Durarara!!, Ultear de Fairy Tail) como Sasada, entre muitos outros.
Assim como disse no título, Natsume Yuujinchou conta a história de autoconhecimento e aceitação do jovem Natsume, o qual costumava odiar youkais quando criança e em algum momento de sua vida passou a considerá-los importantes para ele (tanto quanto os humanos, inclusive). Acompanhamos durante esses 52 episódios a jornada de uma criança solitária, vítima de bullying, rejeitada por todos pelo simples fato de ser diferente. Embora Natsume já tenha chegado à adolescência no início da história, o que assistimos é o desenvolvimento e a transformação daquela criança rejeitada em um jovem capaz de conhecer a si próprio, fazer amigos e finalmente encontrar um lugar que ele possa chamar de lar.
No geral, Natsume Yuujinchou possui uma natureza episódica a qual vem acompanhada de um ritmo lento, o que pode incomodar um pouco quem estiver assistindo. Apesar disso, gostaria que vocês dessem uma chance à obra, pois cada episódio é um degrau que Natsume sobe, todos os encontros que ele tem com diferentes pessoas e youkais são significativos e servem ao objetivo de crescimento e amadurecimento do personagem.

Um dos pontos interessantes do anime, na minha opinião, é a narrativa – a forma com a qual a história é contada. Por exemplo, quando o Natsume “devolve” o nome de um determinado youkai, as memórias de sua avó com aquele youkai específico se tornam dele, fazendo com que aos poucos ele (assim como nós) vá aprendendo mais sobre a Reiko – embora todas as memórias estejam ligadas ao período de adolescência dela, também.

Já que Natsume está no mundo, sabemos que a Reiko encontrou alguém e teve filhos, mas até o momento não se sabe como foi a fase adulta dela, quem são realmente os pais ou o avô do Natsume, e assim por diante. Essa é, inclusive, a principal crítica que fazem com relação à obra: a falta de foco na Reiko. Entretanto, tudo indica que a próxima temporada nos trará novidades sobre ela, portanto vamos aguardar. Além disso, o anime também faz bom uso dos flashbacks para nos mostrar como era o Natsume na infância e como ele amadureceu desde aquela época.

Outro ponto interessante do anime é que a cada novo episódio temos uma reflexão diferente a fazer. Os encontros do Natsume com os diferentes tipos de pessoas e youkais nos oferecem diversas perspectivas sobre os mais variados temas. Existem seres humanos bons e seres humanos ruins, assim como existem youkais do bem e youkais do mal. A obra nos ensina principalmente a não julgar alguém sem conhecer os motivos de tal pessoa para agir de um determinado jeito.

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“No entanto, uma vez que você tenha sido amada,

 

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e uma vez que você tenha amado, você não consegue esquecer”.

Falando especificamente do protagonista, Natsume possui uma característica muito forte que percebemos logo no começo do anime: ele não quer incomodar ninguém. Tendo mudado de casas e famílias inúmeras vezes ao longo de sua infância, ele desenvolveu o medo de cometer algo que fosse atrapalhar a vida de seja lá quem estivesse cuidando dele e consequentemente de ser mandado embora. Com isso, Natsume se tornou uma pessoa com a mania de querer resolver tudo sozinha, de carregar o peso do mundo em seus ombros porque pedir por ajuda significaria incomodar outras pessoas com os problemas dele – e ele não gostaria que isso acontecesse.

Os colegas de classe de Natsume, por exemplo, não sabem que ele consegue ver youkais. Ele acredita que contar sobre isso a eles seria o mesmo que fazê-los correr um risco desnecessário por sua causa. Por outro lado, ele sofre muito tendo que mentir o tempo todo e às vezes é tomado como estranho por agir de forma repentina em diversas situações em que ele encontra um youkai. Fora que, quando criança, ele costumava dizer as pessoas o que via – mas ninguém acreditava nele – e por isso sofria bullying. Ser chamado de “mentiroso” é uma das coisas que mais machuca Natsume. Ele também tem medo de dizer a verdade para os amigos e acabar sendo chamado de mentiroso por eles também. Em um certo ponto da história, Natsume conclui que a família que cuida dele agora é formada por pessoas muito boas e que se ele contasse a verdade, o casal provavelmente acreditaria nele. Ainda assim, ele volta ao primeiro ponto: e se contar a eles significasse fazê-los correr um risco desnecessário?

Natsume é uma pessoa acorrentada – presa por seus medos, inseguranças, pensamentos excessivos. No entanto, ao parar de pensar que o fato de ele conseguir ver youkais fosse uma “maldição”, ele deu o primeiro passo para a sua libertação. Por quê? Bem, o fato é que ele consegue ver youkais e vai ter que conviver com isso. A partir daí, ele tem duas opções: a) martiriza-se eternamente por causa disso e vive em solidão, pois ninguém mais poderia entendê-lo; b) aceita a si próprio e encontra formas para conviver consigo mesmo. Seguindo esse caminho, Natsume faz amizade com youkais que o fazem perceber esses “defeitos”, que o deixam ciente de suas fraquezas – de modo que ele consiga reconhecê-las e então se fortalecer ao conquistá-las.

 

 

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“Observando você, tudo o que pude ver foi o seu desejo de proteger coisas importantes,

 

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e de não querer causar problemas para os outros.

 

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Todos esses tipos de sentimentos.

 

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Odeio pessoas que não dão valor a si mesmas.”

Através do seu contato com os youkais, Natsume acabou encontrando outros humanos que também conseguiam ver as mesmas coisas que ele: os exorcistas. Apesar de ele ter ficado feliz em um primeiro momento ao saber que não estava sozinho, logo tivemos o desenvolvimento de um conflito. Os exorcistas exterminam os youkais perigosos que eles não conseguem controlar, capturam aqueles que podem servir de alguma coisa e simplesmente ignoram os que não acrescentam em nada – basicamente, tratam esses youkais como ferramentas para benefício dos próprios humanos. Natsume, tendo amigos youkais, obviamente não concorda com isso.

 

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“Você não deve permitir que ayakashis tenham um lugar em seu coração.

 

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Eles são do mal, diferentemente dos humanos.”

Humanos não são maus, minha querida senhora exorcista? Acho que a senhora está precisando dar uma olhadinha nas coisas que acontecem ao redor do mundo: somos a espécie responsável por grande parte da destruição do planeta. O ponto aqui é que seres humanos podem ser tão maus ou ainda piores do que aqueles que eles julgam como perigosos (nesse caso, os ayakashis). Como diria o Nyanko-sensei, em outra ocasião e para outros personagem…

 

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“Um humano insensível como você não seria capaz de entender nossos sentimentos.”

Natsume entra em conflito diversas vezes com os exorcistas. Dizem a ele que ele precisa decidir do lado de quem está: humanos ou youkais? Entretanto, será mesmo que Natsume precisa escolher? Por que ele não poderia optar pela coexistência? Bem… Aí entram outras variáveis. Por exemplo, é dito por incontáveis vezes pelos youkais que os humanos possuem um período muito curto de vida (na concepção de tempo deles). Portanto, a partir daqui já podemos imaginar todo o sofrimento que deve vir por meio da coexistência de um humano e um youkai, certo? Como você vai conviver com alguém que você inevitavelmente deixará sozinho depois? Será que vale a pena se apegar ao que você tem certeza que irá partir, mais cedo ou mais tarde? Natsume deve lutar por algo que ele talvez nunca alcance?

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“Eu aprendi que não importa o quanto você queira algo,
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quantas vezes você grite por ele, às vezes está simplesmente fora do seu alcance.”

Assim como esses, vários outros conflitos são desenvolvidos ao longo das quatro temporadas. Eu poderia ficar horas e horas aqui escrevendo sobre cada um deles, mas não gostaria de estragar o anime todo, portanto tratem de assisti-lo caso estejam interessados em descobrir mais sobre eles! Ah, e pra não dizer que eu não falei mal de nada, se eu tiver que reclamar de alguma coisa, vai ser dessa cena aqui:

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“Isso é tão vergonhoso…
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“Pensar que estou sendo carregado por uma mulher…”

Porra, Natsume! Eu realmente poderia ter ficado sem esse comentário machistinha da sua parte. Faça-me o favor, né? (Felizmente essa cena foi a única que eu detectei algo do tipo).

Agora, alguns comentários aleatórios…

 

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Hinoe é maravilhosa.
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E a Reiko também.
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*little Natsume appreciation screenshot*
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MEU FILHO É FOFO DEMAIS! ❤
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SIM!
Natsume Yuujinchou é uma obra que mexe com as nossas percepções de bem e mal, que nos faz refletir sobre a vida e apreciar aquilo que temos, que nos ensina que ninguém é inteiramente bom ou inteiramente ruim, que toca nas nossas feridas e especialmente nos ensina que há, sim, como superar nossos medos e inseguranças. É, acima de tudo, uma história tocante e que certamente mexerá com os seus sentimentos.
Primeira temporada: 8/10;
Segunda temporada: 8/10;
Terceira temporada: 9/10;
Quarta temporada 10/10.
Por fim, espero que tenham gostado do post. Gostaria de ouvir as opiniões de quem já assistiu e também se consegui motivar alguém a assistir. Fiquem com essas duas imagens maravilhosas:

 

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4 comentários em “Review | Natsume Yuujinchou: uma caminhada em direção ao autoconhecimento e aceitação

  1. será que você poderia me explicar algo? eu estou acompanhando o anime de pouquinho em pouquinho, ou seja, dois episódios na semana e tal pois eu simplesmente me apaixonei pelo anime e tenho medo de acabar rápido. o negócio é que eu comecei na doida, e estou na dúvida em que temporada estou. se é a terceira, quarta.. pois na minha cabeça é a primeira, mas vai que eu comecei errado. será que poderia me ajudar com isso? não achei em nenhum lugar informações que realmente explicassem direitinho as sequências de cada um. ou se achei, era muito confuso.

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    1. Oi!

      Natsume Yuujinchou é dividido em temporadas de 13 episódios cada. Às vezes os Blu-Rays incluem OVAs ou episódios especiais, mas estes não afetam o desenrolar da história, então assisti-los é opcional. Recentemente foi lançado um filme também. A ordem de lançamento é a seguinte:

      1º: Natsume Yuujinchou (2008)

      2º: Zoku Natsume Yuujinchou (2009)

      3º: Natsume Yuujinchou San (2011)

      4º: Natsume Yuujinchou Shi (2012)
      Natsume Yuujinchou: Nyanko-sensei to Hajimete no Otsukai (OVA; 2013)
      Natsume Yuujinchou: Itsuka Yuki no Hi ni (OVA; 2014)

      5º: Natsume Yuujinchou Go (2016)
      Natsume Yuujinchou Go Specials (2 episódios especiais; 2017)

      6º: Natsume Yuujinchou Roku (2017)
      Natsume Yuujinchou Roku Specials (2 episódios especiais; 2017)

      7º: Natsume Yuujinchou Movie: Utsusemi ni Musubu (Filme; 2018)

      Espero ter ajudado! 🙂

      Curtido por 1 pessoa

  2. Comecei a acompanhar agora, na verdade estou quase terminando. A crônica/opinião sobre ele o retrata muito bem, em alguns momentos me lembrou Mushishi também. Os personagens yokais são cativantes. E é interessante como o Sensei sempre tem um olhar de quem está analisando a situação. E realmente é um anime que merecia mais destaque.

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