Esta última temporada de inverno teve de tudo: adaptações que certamente entrarão para a lista de animes do ano, outras tão ruins que não aguentamos mais do que 2 episódios, além de ótimas produções que escancararam ainda mais a necessidade de se ter um bom planejamento para entregar uma animação de qualidade do começo ao fim.
Nesta postagem vocês encontrarão nossas impressões finais de Akebi-chan no Sailor-fuku, Ryman’s Club, Sasaki to Miyano, Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru e Tokyo 24-ku.
Akebi-chan no Sailor-fuku [Lucy]
Da última vez que falei sobre Akebi-chan, confessei que estava com um pé atrás. Apesar da belíssima estreia, alguns ângulos me deixaram bastante desconfortável. Felizmente, depois do terceiro episódio, nenhum outro momento chegou aos pés dos anteriores. A obra poderia muito bem ter metido o pé na jaca, mas conseguiu encontrar seu equilíbrio. E como achei melhor ter o pé no chão sobre o estúdio, a parte técnica também acabou me surpreendendo! O CloverWorks conseguiu evitar sua tendência de meter os pés pelas mãos durante a produção (mas só nesse anime. Mais sobre isso abaixo). Talvez essa equipe em particular seja pé quente, quem sabe, né?
Ok, chega, acredito que você leitor mal esteja se aguentando em pé depois desse parágrafo. Peço perdão. Após esses primeiros momentos, tal como o anime, eu vou arredar um pouco o pé dessa fixação. Juro de pé junto que acabaram os trocadilhos! Por favor, não deixem comentários pegando no meu pé!
Mas é mais ou menos isso. Eu não sei dizer se a direção realmente amenizou os trechos, ou se eu que me acostumei a eles (espero que seja a primeira opção), mas tirando uma determinada cena que realmente fez eu me sentir colocada numa lista da Interpol (a selfie de corpo todo), o meu desconforto diminuiu de maneira imensa. Minha impressão sobre o fanservice de Akebi-chan no Sailor Fuku daria um texto inteiro à parte, mas em resumo, sinto que o foco do anime é uma idealização do arquétipo da menina pré-adolescente, em vez de simplesmente mostrar pés e axilas. A Akebi é a representação exata de alguns dos trejeitos mais romantizados dessa faixa: inocência/ingenuidade, vitalidade, afeição. Ela é um amor e eu gosto muito dela, mas às vezes ela quase parece uma Mary Sue de tão perfeita e “não como as outras meninas”. Não é à toa que todas as colegas de turma se apaixonam imediatamente por ela, e por aí vai. Eu não acho que isso por si só seja um demérito, porque por incrível que pareça, *funciona*. Como cada menina tem sua individualidade marcante, a Akebi, apesar de mais excêntrica, não é mais estranha que as amigas. Isso é parte do equilíbrio que eu mencionei em meio às piadas de pé, e visto que tudo é montado unicamente ao redor de como ela interage com essas outras meninas… Chegar nesse balanço foi fundamental para a obra dar certo aos meus olhos.
Eu não consigo recomendar Akebi-chan plenamente por causa dessas peculiaridades da direção, e também porque não acho que seja um anime para muitos. Ele é um tanto idílico, com poucos acontecimentos e quase nenhum enredo para ser descrito; é mais para ser apreciado do que analisado. É uma menina indo para uma escola nova e fazendo amizades, e tudo é muito bonito e bem animado. É isso, literalmente só isso. Se parece algo que vai te agradar, mesmo que você tenha ressalvas, eu sugiro que confira o primeiro episódio. Ele define bem o tom do anime, é uma introdução ótima. No meu caso, encontrei mais positivos do que negativos na minha experiência. Afinal, como não sorrir com a fofura da Akebi e suas quinze namoradinhas?
7.0/10
Ryman’s Club [Lucy]
Vim pelo esporte, fiquei pelas tretas da empresa. Sim, em Ryman’s Club, o drama pessoal é mais interessante que o badminton em si. Não que as competições não sejam interessantes, mas de longe não tiveram tanto da minha atenção quanto as histórias dos jogadores. Se bem que eu não acredito que isso seja um ponto muito bom pros fãs do gênero, mas…
O que faz o anime funcionar são os conflitos dos personagens. A resolução do protagonista quanto aos seus traumas do passado é até bem rápida (lá pelo episódio 4), o que é ótimo! Não ficou arrastado e deu espaço para desenvolver o resto do time (até certo nível). Em especial, gostei da situação do jogador que largou o esporte para cuidar da família. Talvez esse tenha se destacado para mim porque é o tipo de situação que (ao contrário dos outros) só dá para desenvolver com um elenco adulto. Nessa frente, fiquei satisfeita com Ryman’s Club, cumpriu o que me propôs.
Mas acaba que, no final das contas, o esporte não chega a ser aprofundado tanto quanto alguém esperaria. Tem um foco até bem grande nas partidas, sendo bastante frequentes, mas muitas vezes elas são colocadas como pano de fundo para os dilemas dos jogadores. Não se fala muito sobre tática, tirando a parte onde nosso protagonista se mostra capaz de prever movimentos dos rivais — e mesmo isto é mostrado fora de quadra, com o exemplo que ele usou sua capacidade para prever que… um cara ia roubar um mercadinho? Virou até piada entre a equipe do Rukh que ele tem o superpoder do preconceito. Também tem alguns fatores que quebram um pouco a imersão, como um time menor ir de frente contra jogadores de nível olímpico, ou quando jogadores desse time continuam a competir mesmo todos machucados, com curativo na cara e joelho zoado… Rola uma forçação de barra sim, mas para quem está acostumado com isso no gênero, não é nada de ultrajante.
O último ponto que eu gostaria de destacar sobre Ryman’s Club é sobre seus bastidores: essa foi a primeira série de Aimi Yamauchi como diretora (ela já tinha experiência em episódios de Tokyo Revengers e Koi to Uso), com a ajuda de Teruko Utsumi (Sarazanmai) como series composer. É ótimo ver duas mulheres nos papéis principais da produção, ainda mais com uma delas tendo sua grande chance. Imagino que deve ter sido uma tarefa e tanto, visto que a situação no LIDENFILMS chegou ao ponto de precisarem aproveitar cortes do anime anterior deles de badminton, Hanebado, mas o trabalho de Yamauchi foi satisfatório e espero que ela tenha mais oportunidades de assumir a direção de séries.
Repito o que eu falei lá nas primeiras impressões: acredito que vale a pena conferir Ryman’s Club pelo cenário diferenciado do esporte fundido ao mercado de trabalho. A idade do elenco em si acaba por não fazer muita diferença na dinâmica dos times (tirando alguns casos isolados), mas ainda passa a sensação de ar fresco dentro do gênero. Mais uma vez, se a premissa te interessou e você ainda não conferiu o anime, vai lá! Apesar de eu não ter morrido de amores como estava esperando lá no início, acho que ainda saí no lucro.
7.0/10
Sasaki to Miyano [Mari]
Sasaki to Miyano é um shoujo. Foi publicado oficialmente como shoujo e é vendido como tal nas lojas japonesas. Esta informação é importante, pois diz muito sobre o porquê de Sasaki to Miyano ser como é, além de ser necessária para que os fãs encontrem os volumes para comprar – sério, até a conta oficial da obra teve que fixar um tweet no perfil deles falando que eles estavam na seção de shoujo e não de BL porque as pessoas frequentemente reclamavam que não conseguiam achá-los.
Se você já leu ou assistiu a adaptações de alguns shoujos clássicos de romance você notará que Sasaki to Miyano segue a mesma estrutura narrativa de seus antecessores. Embora Sasaki tenha percebido que estava apaixonado por Miyano logo no primeiro episódio, o que geralmente não é o caso nesse tipo de história, o desenrolar do relacionamento deles é extremamente lento. Isso acontece porque Miyano não se entende como um garoto queer e não vê no Sasaki uma possibilidade de envolvimento amoroso. Logo, é preciso trabalhar os dois temas em paralelo: a aproximação dos dois rapazes e o processo de descoberta e aceitação de Miyano, que na maior parte do tempo busca a resposta para a pergunta “o que significa gostar de alguém?”. Apesar de enrolado – às vezes até demais –, o desenvolvimento acaba por ser realista e também fofo, o que culmina em um desfecho bastante satisfatório.
Pessoalmente, eu acredito que parte da enrolação poderia ter sido cortada. Para mim, Sasaki to Miyano poderia inclusive ser um filme de uma hora e meia e não uma série de 12 episódios. Mas é aquilo, estamos falando de um slow burn, então a lentidão faz parte do charme. Eu gostei que nesse espaço a obra conseguiu trabalhar com alguns outros personagens, o que levou à discussão de temas como homofobia e aceitação familiar. Por outro lado, fiquei com uma preguiça enorme das confusões do Ogasawara com a sua namorada. Era pra ser engraçado, mas eu só consegui revirar os olhos com os comentários e reações veladamente homofóbicas e o reforço daquele estereótipo de que em um relacionamento hétero as duas partes só brigam (felizmente Kuresawa e sua namorada estavam lá também para fazer um contraponto a isso).
Em geral, contudo, a minha experiência com Sasaki to Miyano foi positiva. Se você é fã de slow burn e gostaria de ver uma história fofinha sobre dois garotos se apaixonando e ficando juntos, Sasaki to Miyano foi feito especialmente pra você.
7.0/10
Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru [Ana]
Gostaria de começar dizendo que esse com certeza foi o meu anime favorito da temporada. Mesmo com as ressalvas que ainda citarei aqui, Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru conseguiu me ganhar desde o início. Com um visual e animação bonitos, personagens carismáticos, situações engraçadas e um casal que, no contraste das personalidades, combina perfeitamente, teve como resultado um excelente entretenimento e me deixava animada para cada episódio seguinte.
O principal ponto de ressalva acho que é meio óbvio. Eu já havia apontado esse meu incômodo com o fanservice levemente exagerado no primeiro episódio, e algumas situações que me geraram desconforto voltaram a acontecer no decorrer dos episódios seguintes, como uma cena no segundo episódio que foca na Marin em uma pose desnecessária ou quando a Juju caiu pelada na frente do Gojou. Assim, infelizmente o motivo de eu não dar uma nota máxima aqui é o mesmo que me fez não dar cinco estrelas para a estreia.
No entanto, eu não condeno o anime como um todo por causa dessas cenas que num panorama geral acabam sendo o mínimo. Acho que a obra consegue utilizar muito bem os elementos ecchi em outras situações como as próprias referências dos cosplays da Marin ou a cena do motel, que apesar de toda a questão sexual envolvida, foi exatamente engraçada. O fato é que Sono Bisque nunca se propôs a ser um romance inocente e sim retratar os adolescentes como de fato são. O Gojou é construído como um garoto fofo, dedicado e que também tem suas questões com a descoberta da sexualidade, pois é algo que não dá pra se ignorar nessa fase.
Deixando esse ponto um pouco de lado, é realmente interessante como a relação entre Gojou e Marin vai sendo construída e embora a tensão sexual esteja sempre lá, as faíscas para algo além da amizade vai surgindo aos poucos, de forma natural, embora o anime acabe num ponto em que nada efetivo de fato aconteça além das declarações verbalizadas, mas não ouvidas pelo outro lado. Além disso, a animação em si da obra é ótima e todas as referências dos cosplays e todo o universo que envolve também são bem legais, só achei um pouco desnecessário também quando Marin para mimetizar o bronzeamento de um personagem chega a fazer uma espécie de blackface. Você não precisa mudar seu tom de pele pra fazer cosplay, isso é bem ofensivo na verdade. Outro ponto, dessa vez bem bobo, que também me incomoda em todo o character design é o fato do Gojou usar a mesma fucking roupa em toda e qualquer situação, o cara faz tanta roupa para bonecas e pra Marin que não sobra um pontinho de estilo pra si? Hahaha! De qualquer forma, Sono Bisque foi algo que me deixou muito animada de acompanhar e ainda ficou um gostinho de quero mais, por isso recomendo muito pra quem gosta de obras nesse estilo.
9.0/10
Tokyo 24-ku [Mari]
Lembram quando eu falei nas minhas primeiras impressões da temporada que Tokyo 24-ku tinha potencial para ser algo legal, assim como para ser um completo desastre de produção? Então… É com tristeza que venho informá-los que o segundo cenário foi o que se concretizou. Considerando que antes mesmo de o anime estrear o diretor-chefe de animação Itou Kiminori já havia nos alertado em seu Twitter que a produção estava significantemente atrasada em seu cronograma, bem… Não posso dizer que fiquei surpresa quando deixamos de ter episódios novos em algumas semanas, que foram substituídos por recapitulações, nem quando a qualidade da animação começou a cair drasticamente…
Dito isso, o colapso visual de Tokyo 24-ku nem foi a pior parte pra mim. Eu acompanho animes por temporada há uma década – tempo suficiente para estar vacinada contra esse tipo de situação. Shit happens. Ainda assim, às vezes é possível salvar um anime que não é brilhantemente animado com um bom enredo, como foi o caso recente de Blue Period, por exemplo. Neste sentido, eu estava esperançosa com Tokyo 24-ku, que me pareceu em um primeiro momento uma obra decididamente progressista, disposta a discutir problemas gerados pelo capitalismo, como a desigualdade social, o índice de criminalidade ligado à pobreza… Além de tratar de outros assuntos relevantes, como a arte e o ativismo político, o papel da tecnologia na segurança pública, questões envolvendo a privacidade digital das pessoas, e mais. Tokyo 24-ku era um poço de boas ideias. O problema é que todas elas foram executadas porcamente.
Embora a mensagem final não tenha me parecido de todo ruim – qualquer sistema criado por seres humanos terá falhas e é somente juntos, com a participação efetiva de todos, que será possível tornar o mundo um lugar melhor e mais seguro –, o caminho percorrido até chegar lá foi… na falta de outra palavra, ridículo. O desfecho da história foi literalmente decidido por três adolescentes saindo no soco uns com os outros até eles resolverem trabalhar juntos, como as Meninas Superpoderosas (inclusive eles têm o mesmo esquema de cores). Nesta altura eu já estava morrendo de vergonha alheia, torcendo para que essa tragédia acabasse logo.
Tokyo 24-ku propõe muitas coisas, mas não trabalha de maneira aprofundada com nenhuma delas. No fim das contas, tudo é resumido a salvar a consciência de uma garota que já estava biologicamente morta e que era a crush de dois dos protagonistas e irmã de outro, que tinha um siscon. “Decepção” é pouco para o que eu estou sentindo.
Mas bem, pelo menos a abertura continua sendo a melhor da temporada.
Um comentário em “Impressões finais: temporada de inverno (2022)”