Impressões finais: temporada de verão (2023)

Uma tortura psicológica. Se não fossem os animes de quarta-feira (obrigada por tudo) e algumas continuações, como a de Jujutsu Kaisen, é assim que eu definiria esta temporada de verão. Dito isso, havia uma pequenina luz no fim do túnel.

Nesta postagem vocês poderão conferir as nossas impressões finais de Ao no Orchestra, Higeki no Genkyou to Naru Saikyou Gedou Last Boss Joou wa Tami no Tame ni Tsukushimasu., Okashi na Tensei, Undead Girl Murder Farce e Watashi no Shiawase na Kekkon.

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Ao no Orchestra [Ana]

Depois de assistir 24 episódios de Ao no Orchestra, eu só consigo pensar que ele merecia mais, no entanto, a própria produção não ajudou nem um pouco para que um anime que sequer foi licenciado pudesse ficar mais popularizado. Parece que pagaram os animadores com um salgado e uma coca. A gente entende que não é todo estúdio que tem um orçamento nível KyoAni, como pudemos ver em Hibike! Euphonium, mas a produção de Ao no Orchestra decidiu fazer um dos piores usos de CGI que eu já vi, os personagem pareciam um bando de robozões tocando instrumentos, diminuindo imensamente a emoção em momentos tão importantes para o anime, que são as apresentações da orquestra. Então se eu tivesse que dar um nota ao anime apenas por esse ponto, seria Dó.

Isso é uma pena, porque quando olhamos para a história em si, embora com seus altos e baixos, ela não é ruim. Nesse ponto eu deixei-me enganar com aquele primeiro episódio que me remetia muito a vibe de Shigatsu wa Kimi no Uso, mas nos episódios seguintes eu já percebi que não tinha nada a ver. Embora a interação inicial com a Akine tenha motivado Aono a ingressar na orquestra, foi a convivência com os colegas e a redescoberta da sua paixão pela música que o fez criar laços e ressignificar situações que ele imaginava que não teria volta, devido aos traumas causados pelo seu pai. No fim, ele acaba tendo mais interação com o Saeki, principalmente após as revelações que também envolvem o seu pai.

Embora o drama familiar do protagonista seja bastante presente, envolvendo até problemas de saúde da sua mãe, causados pelo excesso de trabalho, decorrente da necessidade de sustentar a casa sozinha, a obra também dá espaço para desenvolvimento de outros personagens, colegas de Aono. Ela traz uma representação bastante fiel de adolescentes que buscam a música como um refúgio e eles criam na orquestra um ambiente de muito apoio e amizade. Obviamente não podia faltar uma emocionante despedida dos alunos do terceiro ano que agora passam seus postos aos estudantes mais novos. Além disso, mesmo que a animação em si das apresentações estivesse horrível, o anime traz várias referências de sinfonias clássicas, especialmente nos episódios finais e às vezes no silêncio da noite me pego tocando mentalmente a música que eles sempre ensaiavam no violino.

Sabemos que Aono ainda tem questões a trabalhar, e com a mudança do ano letivo, não surpreende que uma nova temporada fosse anunciada em algum momento, mas é preocupante esse anúncio ter vindo imediatamente após o fim dessa temporada em que a animação estava por derreter. Ao menos ainda não há uma data prevista e eu espero que um melhor planejamento venha por parte do estúdio, embora eu não consigo ter muitas esperanças, principalmente quanto aos usos do CGI. Novamente, é uma pena, pois é uma história que eu gostaria de continuar acompanhando.

6.0/10

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Higeki no Genkyou to Naru Saikyou Gedou Last Boss Joou wa Tami no Tame ni Tsukushimasu. [Lucy]

Depois do primeiro episódio, comentei que Lastame precisava “encontrar um propósito”. Após doze episódios, concluo que o propósito foi “não ter propósito”.

Me prometeram um típico isekai de otome game e recebi um slice of life de realeza (e fantasia). Os personagens que eu desconfiei que poderiam trazer algum conflito foram desconstruídos rapidamente, aliando-se à princesa, e ficou claro que a estrutura da série seria de arcos focados em cada interesse romântico do jogo original. Mas não estou reclamando! Primeiro que estou ciente que adaptaram apenas os primeiros dois volumes de sete (e contando — ainda tem muita água para rolar), mas também porque esse ritmo mais contido ajudou a acompanhar o anime de acordo com essas pequenas partes.

Na verdade, Lastame se tornou meu “anime de hora do almoço”. Não levei muito a sério, mas era entretenimento o suficiente para manter meu foco. Nunca encontrou um enredo geral que guiasse o rumo das coisas, mas também não precisou: apesar de meio unidimensionais, os personagens ainda me interessaram. Inclusive, a dinâmica entre o trio principal (Pride, Stale e Arthur) é provavelmente a minha parte favorita do anime — os momentos mundanos entre os arcos foram as partes mais agradáveis da história para mim, o que por sua vez deixava mais interessante a colaboração entre eles durante os momentos de ação.

Acredito que seja um caso de obra cujo aproveitamento vai depender do quanto você gosta dos personagens e do subgênero. Não é nada revolucionário entre as histórias de vilã de otome game, mas também não chega a ser uma das mais enfadonhas. “Não fede, nem cheira”, e isso é uma ótima descrição não apenas da história, como também da animação: pelo menos eu acertei algo sobre o rumo do anime. Tirando algumas escolhas equivocadas de CGI para representar a magia de alguns personagens, nada chamou a atenção negativamente. O trabalho do OLM Team Yoshioka foi simples, mas competente e agradável, e novamente, são esses adjetivos que eu usaria para descrever Lastame como um todo.

7.0/10

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Okashi na Tensei [Lucy]

Antes de entrar nas minhas críticas, vou apontar um positivo: Okashi na Tensei é bem bonitinho, em termos visuais. Não manteve o brilho do primeiro episódio e é possível reparar que o orçamento provavelmente não era lá essas coisas, mas gostei bastante do estilo adotado pela equipe. O design do elenco é um destaque — é difícil para mim argumentar que qualquer um dos personagens mais relevantes tem aparência genérica.

Agora, tratando de outros aspectos…

Assumo que parte da minha insatisfação com esse anime vem das minhas próprias expectativas para ele — vide as comparações que fiz com Ascendance of a Bookworm nas impressões iniciais. Essa parte de fato foi um ato falho, mas vocês vão ter que concordar comigo que num anime que tem um pâtissier como protagonista, não é loucura minha esperar que o foco dos episódios seja culinária, né?!

Eu tive que esperar um tempão, e ainda assim saí insatisfeita.

Os sonhos açucarados do protagonista tiveram que ser deixados de lado em prol dos conflitos do feudo, mas não em tom de conflito: eles só foram meio esquecidos mesmo. Se o que tomou o lugar deles fosse interessante, estaria tudo bem; mas as questões introduzidas me parecem um tanto superficiais, não me engataram. Não foram poucas as vezes que tive que voltar várias cenas porque acabei me distraindo com outra coisa e não absorvi nada do que aconteceu.

Em meio às invasões, guerras e estratégias, a escrita não é forte o suficiente para se manter interessante ao longo dos episódios. Não fui atrás do mangá ou da novel, mas acredito que a adaptação não ajudou nem um pouco. O equilíbrio entre política e cotidiano foi inconstante, deixando o ritmo da obra um tanto questionável. Por exemplo, um grande conflito militar que se construiu nos últimos episódios foi resolvido em questão de duas cenas curtas, mas isso foi em prol de explorar o estresse pós-traumático de um dos personagens envolvidos. Boa intenção, execução ligeiramente frustrante — ainda mais que tudo isso só levou meio episódio.

Saindo numa breve tangente, concluo também que esse é mais um anime para a lista do “isekai apenas pela moda”. Nos últimos anos, tenho percebido que várias obras que têm “reencarnação”, “renascimento”, “em outro mundo” (entre outros similares) no título só o possuem devido ao furor que se criou em torno desse tipo de história. Entretanto, se você tirasse isso do nome, não faria absolutamente diferença NENHUMA, talvez até melhorasse alguns aspectos da história! Com certeza, esse é o caso de Okashi na Tensei.

A fascinação do menino por doces poderia ser explicada pelo contato com outros feudos mais ricos e por meio de seus estudos, parte do aprendizado dele como sucessor. Seria até mais legal vê-lo tentando desvendar como se cozinha algo, invés de já saber a receita toda de cabeça! Esse desbravamento poderia fortalecer a motivação do garoto de “fazer qualquer coisa pela confeitaria”. Isso sem contar que o romance dele com uma menina de nove anos se tornaria bem mais agradável de acompanhar. O único problema com esse argumento é que apesar de ficar mais palatável, mesmo se não fosse isekai, o anime ainda seria chato.

E aí já era.

4.5/10

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Undead Girl Murder Farce [Mari]

Se eu tivesse que definir Undead Girl Murder Farce em uma única imagem, certamente eu escolheria aquele meme do Martin Scorsese com os dizeres “THIS IS CINEMA!”. É uma pena que o anime já tenha adaptado três dos quatro volumes disponíveis da novel, que está em publicação desde 2015. Isso significa que, caso haja a intenção de produzir uma segunda temporada, essa continuação só deve acontecer daqui alguns bons anos. Por outro lado, eu não me importaria de esperar o tempo que for necessário para que isso se concretize, pois realmente gostaria de acompanhar o resto da jornada de Tsugaru, Aya e Shizuku e os amigos e inimigos que eles tem feito pelo caminho. 

A história de Undead Girl Murder Farce até aqui foi composta de quatro grandes atos. O primeiro episódio serviu como um ato de abertura para nos introduzir ao universo da obra e mostrar como Tsugaru, Aya e Shizuku se conheceram, estabelecendo o objetivo que serviria de combustível para o resto do enredo (encontrar o cara que roubou de Tsugaru a sua humanidade e de Aya o seu corpo). O trio especializado em desvendar mistérios sobrenaturais então começa a viajar pelo mundo atrás de pistas e acaba por se envolver em três casos. No primeiro eles lidam com uma família de vampiros onde o chefe da casa quer descobrir quem assassinou a sua esposa; no segundo, eles se deparam com figuras famosas da história, como Arsene Lupin, o Fantasma da Ópera, Sherlock Holmes, James Moriarty e outros, numa trama que gira em torno de uma pedra preciosa que Lupin deseja roubar; e no terceiro eles precisam investigar uma série de assassinatos que estão ocorrendo em uma vila humana cuja população acredita estar sendo atacada por lobisomens.

Eu devo dizer que se tem uma coisa que não falta ao Yugo Aosaki, criador da obra original, essa coisa é criatividade. Ele conseguiu unir e mesclar elementos de dois gêneros distintos (mistério e sobrenatural) de uma forma que mantém o espectador envolvido e entretido. Eu juro que eu simplesmente não via o tempo passar – quando o encerramento começava a tocar, eu virava pra Ana e dizia “mas já?!”. Para além da escrita cativante de Aosaki, muito desse mérito também se deve ao diretor Mamoru Hatakeyama, conhecido pelos trabalhos que fez em Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu e Kaguya-sama wa Kokurasetai. Embora o terceiro caso, na minha opinião, não tenha sido tão bem desenvolvido quanto os outros dois (deveriam ter mostrado um pouco mais da perspectiva da principal personagem envolvida na trama), eu ainda assim gostei muito. Não vou entrar em detalhes para evitar spoilers, mas se você assistiu até o final, já deve saber a que eu estou me referindo.

Enfim, Undead Girl Murder Farce não só é o melhor anime da temporada pra mim, como também certamente estará na minha lista de melhores animes do ano. Caso você não tenha começado a ver ainda, fica aqui a minha recomendação!

9.0/10

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Watashi no Shiawase na Kekkon [Mari]

Conforme mencionei na nossa postagem de apostas para a temporada de verão e também nas minhas primeiras impressões, Watashi no Shiawase na Kekkon já era um sucesso comercial antes mesmo de anunciarem a adaptação para anime. Eu estava curiosa para descobrir o motivo por trás de todo o hype e, agora que o último episódio da série foi ao ar e temos inclusive uma segunda temporada confirmada, posso dizer com um ar de satisfação que Watashi no Shiawase na Kekkon cumpriu com as minhas expectativas.

Para falar sobre esse primeiro cour de WataKon, podemos dividir a história em três grandes arcos. Nos episódios iniciais nós fomos apresentados à Miyo e sua família, que lhe destratava por supostamente não possuir poderes sobrenaturais, algo que era muito importante para a sua linhagem (embora até então não saibamos por quê). Nós acompanhamos o dia a dia de Miyo naquela casa, que detalhava o processo doloroso e traumático pelo qual Miyo teve que passar até receber uma proposta para se tornar noiva de Kudo Kiyoka. Embora somente coisas terríveis tenham sido ditas sobre a família Kudo até aquele momento, não é como se Miyo pudesse recusar a proposta, então ela resolve seguir em frente com o noivado. Lá, Miyo conhece pessoas que de fato lhe tratam como ela merece, e aos poucos ela vai recuperando a sua autoestima e confiança. Finalmente, toda a questão sobre poderes sobrenaturais é explicada, gerando uma série de acontecimentos que acabam por separar Miyo de seu noivo, e ela tem que lutar para tê-lo de volta. 

Eu confesso que foi bastante gratificante acompanhar o crescimento da Miyo ao longo dos episódios – a Miyo que começa a série não é a mesma que termina. Não é como se os traumas dela tivessem magicamente desaparecido, mas ela tomou a decisão de enfrentá-los e terá o apoio de seu noivo e familiares, e é isso que realmente importa. Já a “família” que maltratava Miyo teve o fim que merece, perdendo todo o seu prestígio e basicamente sumindo do mapa. A única coisa que eu não gostei muito foi como inseriram as tretas políticas e militares no enredo.

Embora não tenha surgido do nada, já que sabíamos desde o início que havia um motivo para a disputa de poder entre as principais famílias da região, a forma como os conflitos foram desenvolvidos me pareceu um pouco forçada. A narrativa passou tanto tempo focada em um núcleo de personagens, lidando principalmente com o crescimento pessoal da Miyo, que quando fomos repentinamente apresentados a um conflito armado entre humanos e seres sobrenaturais, parecia que estávamos falando de outro anime. Dito isso, eu acredito na competência da autora de escrever uma boa história, portanto espero que esses problemas sejam solucionados na continuação.

Por fim, vale mencionar que os visuais de Watashi no Shiawase na Kekkon são simplesmente fantásticos. Mais uma vez o estúdio Kinema Citrus conseguiu surpreender a todos com a qualidade que eles são capazes de proporcionar a uma adaptação bem planejada. Por favor, se você é alguém que curte um shoujo bem feito, assista WataKon. Eu prometo que você não irá se arrepender.

8.5/10

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