Marcada por um baixo número de bons títulos ao longo do trimestre, podemos dizer que a temporada de verão de 2021 foi atípica. Por outro lado, seria exagero dizer que ela foi de todo ruim. Sendo assim, nesta postagem vocês encontrarão nossas impressões finais de Fumetsu no Anata e, Kageki Shoujo!!, RE-MAIN, Tokyo Revengers, Uramichi Onii-san e Vanitas no Carte.
Fumetsu no Anata e [Lucy]
Boas notícias: o resto de Fumetsu no Anata e não é tão devastador quanto o primeiro episódio.
Más notícias: o resto de Fumetsu no Anata e não é tão interessante quanto o primeiro episódio.
Entendo que vida e morte são temas centrais do anime, mas lá pelo final do primeiro cour, parecia que já estava estabelecida uma ordem natural dos arcos: Fushi conhece alguém, passa algum tempo com a pessoa, cria uma ligação, a pessoa morre. Lá no primeiro episódio isso me arrasou, no primeiro arco soltei um “ah, não!”, na próxima vez já sabia que ia ocorrer e não me afetou em quase nada. Ficou claro aí que teria que ter alguma mudança, mas ao desejar isso, não sabia o que estava falando…
Ao longo da segunda metade do anime, me peguei cada vez menos interessada nos desenvolvimentos da história. Para piorar, as inconstâncias da animação ficavam cada vez mais notáveis, em especial se tratando da incapacidade de seguir o modelo de character design dos personagens. O arco da ilha certamente é o ponto baixo do anime, e enquanto os novos personagens até eram legais, não chegavam perto do carisma de Gugu, March e seus companheiros. Também não fiquei muito fã da presença cada vez mais constante do criador de Fushi (pelo menos a voz de Kenjiro Tsuda compensa), e sinceramente acho que não tinha necessidade desse sub-enredo dos monstros que perseguem o protagonista com algum propósito maior porém desconhecido. Idem com a aparição da vilã, que é a antagonista do primeiro arco, ressurgida do nada anos depois. Entendo que foi a melhor maneira de continuar propulsionando a história adiante, mas não sei dizer se foi uma escolha tão boa assim. Me pareceu muito destoante do clima original da história, não casou muito bem com o universo apresentado até ali.
Falando assim, até parece que eu não gostei do anime, mas ele tem sim seus positivos! Os dois primeiros arcos são muito bons e o primeiro, por eu ainda não ter me acostumado à fórmula, conseguiu ainda ter um bom peso emocional. Pelo formato das histórias, são poucos os personagens que interagem com Fushi, e considero isso um positivo — há mais espaço para a caracterização deles. Não cheguei a ficar apegada a nenhum deles, mas não dá pra negar que são memoráveis. E visto que esse é um drama emocional, movido pelos personagens, é claro que isso é essencial!
Nesse mesmo ponto, uma das coisas que salvou até mesmo os momentos mais chatos para mim foi o protagonista. Gosto muito do Fushi, a natureza e poder dele são legitimamente interessantes para mim e nos momentos de ação gostava de observar qual das possibilidades disponíveis ele usaria. Fora isso, preciso repetir o elogio que fiz a Reiji Kawashima, seu dublador, lá nas primeiras impressões: ele incorporou muito bem a ideia da criatura que ainda está aprendendo a ser humano, pouco a pouco evoluindo em seu falar. Espero ouvir mais performances dele em breve!
Se for pra mandar uma daquelas comparações que adoro fazer, Fumetsu é uma ladeira com muita pouca inclinação, mas que ainda fica claro que você está constantemente indo abaixo. Não é exatamente um anime ruim, mas foi de “fantástico” a “bonzinho”. Devo voltar para a segunda temporada, até por curiosidade mesmo, mas não sei se a acompanharei até o final se eles não conseguirem encontrar uma maneira satisfatória de fugir da fórmula. Seria uma pena se isso ocorresse, porque é uma obra que, assim como seu protagonista, tem um enorme potencial.
7.0/10
Kageki Shoujo!! [Ana]
Confesso que o rumo que Kageki Shoujo!! tomou após minhas primeiras impressões não foi exatamente o que eu esperava, mas isso não é necessariamente ruim; na verdade, mesmo sendo um pouco diferente do que eu imaginei, eu gostei bastante.
Um dos pontos positivos foi o anime ter dado tempo de tela relevante para mais personagens além das protagonistas, nos apresentado o background de outras colegas de sala como Kaoru, Sawa, Aya e as irmãs Chiki e Chiaki. Isso foi importante para nos aproximar um pouco de cada uma delas, conhecer suas ambições e criar um apreço ao ponto de nos deixar até divididas por quem realmente torcer para conseguir os quatro papéis para interpretar Romeu e Julieta.
Fico feliz também que os temas mais pesados, embora necessários, foram abordados mais no início da temporada e certos conflitos não foram arrastados por muito tempo. Foi surpreendente descobrir por que Ai até então tinha muitos problemas para se relacionar socialmente e fugia do seu fã desde quando era idol. A importância que Sarasa teve na resolução do caso com o fã fez com que Ai finalmente fosse mais aberta com ela e aceitasse a sua amizade (e também fizesse seu cabelo crescer na velocidade da luz a partir dali, haha). Outra coisa que fiquei feliz por ter sido logo resolvida foi a questão da professora que dizia que Aya estava acima do peso e a menina tentou emagrecer de maneira não saudável. Por sorte a mulher ficou até esquecida depois que Aya foi orientada a não continuar com as atitudes prejudiciais e sinceramente, ao meu ver, esse plot foi meio desnecessário e poderia nem ter existido.
Obviamente, eu não poderia deixar de falar sobre nosso cristal a ser lapidado, Watanabe Sarasa. Depois de tudo, acho que não tem uma definição melhor para ela do que essa. Primeiramente, eu realmente imaginei no início que teríamos uma maior aproximação da Ai com a Sarasa ao ponto de serem um casalzinho, mas quando o conflito principal da Ai se resolve e elas seguem apenas como amigas, se apoiando mutuamente, mas não extremamente próximas, e quando Ai decide tentar o papel de Julieta e Sarasa de Tybalt (e não o de Romeu), eu entendi que o anime não seria sobre isso, e está tudo bem. Acredito que as coisas aconteceram da melhor forma, pois a audição da Sarasa para Tybalt era não apenas uma superação dela com ela mesma, mas também mostrando ao professor que ela poderia sim construir o personagem da sua própria forma, mesmo a gente ficando com o coração apertado pela disputa direta dela com a Sawa pelo papel. Diversas vezes é mostrado como Sarasa teve influência do kabuki na sua formação, uma modalidade de teatro que é performada apenas por homens, mas que acabou atuando quando criança. Isso moldou muito a maneira que ela encarava cada papel e fazia uma certa cópia de coisas que ela já tinha visto, por isso ela precisou se reinventar para audição do Tybalt e pudemos ver que ela realmente tem muito potencial.
Gostei como o anime mostrou que, de maneiras diferentes, todas elas têm muito potencial, mas nas palavras do próprio professor, também têm muito a aprender e melhorar, afinal a maioria delas são ainda muito jovens, como a Sarasa que tem apenas 15 anos, então tem um longo caminho a ser percorrido para chegar até uma “top performancer” da Kouka Theatre Troupe. Assim, o final nos deixou um gostinho de quero mais, já que nós conhecemos as meninas, sabemos quem ficou com os papéis e acaba por aí.
Por fim, da parte técnica não tenho nada a reclamar, o estúdio fez um ótimo trabalho e também não dá pra não falar na performance das dubladoras, principalmente a Sayaka Senbongi que fez a Sarasa, e de como a HanaKana é especialista em fazer personagem insuportável, né? (A menina do segundo ano lá que prefiro nem citar o nome). Enfim, vou sentir saudades das minhas filhas e quero muito uma segunda temporada!
8.0/10
RE-MAIN [Mari]
Acompanhar RE-MAIN foi certamente uma experiência: houve momentos em que eu fiquei emocionada com a história e o esforço do protagonista, outros em que torci por ele e seus colegas de time como se fossem meus próprios filhos e, é claro, também senti vontade de esganá-lo no decorrer de alguns episódios. Se o objetivo de RE-MAIN era me fazer sofrer com um misto de emoções, posso dizer que foram bem-sucedidos nisso. É uma pena que o último episódio tenha acabado com um gostinho de “quero mais” porque infelizmente eu acho muito difícil haver uma segunda temporada (com raras exceções, esse costuma ser o destino de animes originais).
Muito do que eu havia previsto nas minhas primeiras impressões de RE-MAIN acabou por se concretizar e, de uma maneira geral, eu diria que o desenvolvimento e o desfecho do anime foram satisfatórios, mas isso não significa que eu não tenha críticas ao roteiro… Principalmente em relação à decisão de lá pelas tantas, quando tudo parecia se encaminhar, causar um segundo acidente, levando a uma nova perda de memória de um tempo específico da vida do protagonista, o que me pareceu extremamente forçado. Eu podia aceitar a probabilidade de isso acontecer uma vez, mas DUAS VEZES? Sabe, há um limite para a minha suspensão de descrença. Além disso, fazer o Minato enfrentar e gradualmente aceitar o seu eu do passado seria um processo muito mais interessante do que simplesmente acabar com o Minato que conhecíamos e amávamos. Fomos roubados!
Embora eu tenha gostado da mensagem do anime sobre como é possível mudar a si mesmo e o seu futuro, eu acho que poderiam ter trabalhado isso de uma forma mais detalhada. RE-MAIN é realmente mais um daqueles casos que com dois cours teria conseguido contar uma história melhor. De resto, tivemos uma produção técnica OK, sem grandes highlights. Eu teria interesse em saber mais da história desses meninos, mas como disse, me parece algo difícil de acontecer…
7.0/10
Tokyo Revengers [Lucy]
Por mais que eu estivesse prevendo que Tokyo Revengers seria um dos grandes sucessos do ano, eu não esperava que as coisas tomassem uma proporção tão grande.
Interprete isso como quiser.
No entanto, (a princípio) meu trabalho aqui não é comentar sobre a legião de adolescentes que curiosamente decidiram adotar símbolos budistas em homenagem ao anime, e sim sobre a obra em si… que apesar do fandom que tem, merece sim a atenção que recebeu nos últimos meses. Uma coisa é fato: o autor sabe bem como trabalhar com cliffhangers e plot twists. Com a exceção de um único desenvolvimento no início do segundo cour — que na minha opinião deu uma forçadinha na barra, sim — tudo mantém um bom ritmo, sem parecer que estão tentando prolongar a história. Apesar de não exigirem muito da lógica de quem assiste, ainda trazem bastante entretenimento.
Uma grande crítica que tenho ao enredo, no entanto, é aquela velha questão que infelizmente continuamos tendo que insistir: o tratamento da única personagem mulher relevante. E dessa vez não chega nem a ser (apenas) de um ponto de vista feminista, mas (também) de escrita: a namorada do protagonista, Hinata, não passa de uma mecânica pra fazer o enredo avançar. Sim, ela é fofa, ela trata ele bem, ela é um amorzinho. E é isso, sabe? Só isso. Ela literalmente só existe como motivação para o personagem principal, ela não tem papel ou personalidade além de ser o interesse romântico mega idealizado pelo qual o herói deve se sacrificar. Até mesmo as cenas mais marcantes dela são discursos motivacionais que ela dá quando ele está pra baixo ou querendo desistir. Chega a ser frustrante.
Falando em frustração, é preciso comentar: Tokyo Revengers está bem, beeem longe de ser uma obra bonita de ver. A história carregou bem a animação mediana (e estou sendo gentil em colocá-la dessa maneira), mas essa é uma série de ação, no fim das contas. Admito que acelerei a reprodução em várias cenas de luta a fim de deixar a situação um pouco mais fluida. Como eu comentei nas primeiras impressões, o estúdio LIDENFILMS tem pouca experiência com animes de mais de 20 episódios, e isso fica bem evidente em Tokyo Revengers. Espero que uma eventual segunda temporada traga um planejamento e orçamento melhores, porque tem um enorme potencial para ótimas batalhas sendo perdido aqui.
Voltando à repercussão que mencionei no início do review, por mais que isso sejam comentários sobre a obra, eu não tenho como ignorar o contexto por trás dela. Afinal, o Rukh também é informação! Com toda a boa vontade do meu coração, eu a princípio queria acreditar que a escolha da suástica budista foi apenas uma tentativa de parecer cool e edgy, uma escolha infeliz para caramba. Tem boatos circulando pelo Twitter dizendo que o autor era delinquente quando adolescente e que a manji era o símbolo da gangue dele, o que seria uma justificativa bem mais aceitável… até a segunda página. Essa thread explica mais sobre a origem e crescimento das gangues Bosozoku, assim como o que elas realmente representam para muita gente. Óbvio que o anime não passa de uma versão mega romantizada disso, mas boa parte de quem assiste por aqui não tem consciência da situação. É claro que tem uns mau-caráteres se aproveitando da fama do anime para exibirem suas suásticas por aí com uma justificativa plausível, mas eu acredito que tem gente legitimamente caindo na glamorização que a história faz das gangues. Não é meu lugar de fala aconselhar as pessoas se elas devem ou não consumir a obra, mas acho que é essencial trazer essa informação. Muitos de vocês podem se sentir desconfortáveis com a ideia de assistir um anime que se baseia na glorificação de algo péssimo, e eu acredito que é um aviso importante para quem ainda está na dúvida sobre assistir o anime.
Com todos os pesares contextuais à parte, tenho que admitir: eu gostei bastante de Tokyo Revengers. É claro que em como boa parte das histórias de viagem no tempo, é preciso simplesmente aceitar como algumas coisas funcionam, mas não acredito que seja algo que vá prejudicar seu aproveitamento se você já está acostumado com aqueles shounenzões que carregam tudo no poder da amizade e conveniência. A narrativa é eficaz e prende bem o espectador, ao ponto do quase ridículo — terminando a temporada num cliffhanger. Tenho expectativas que anunciem uma continuação nas próximas semanas, mas sinceramente, se isso não acontecer, me vejo obrigada a ir atrás do mangá…
7.0/10
Uramichi Onii-san [Ana]
Acho que não vou me alongar aqui, até porque nem tem como e nem motivo, já que não quero ser muito repetitiva em relação às minhas primeiras impressões. Uramichi Onii-san cumpre o que promete: tirar umas risadas, muitas vezes das desgraças dos personagens.
Felizmente, no decorrer dos episódios não tivemos as piadas saturadas, e devo dizer que o primeiro episódio foi até um tanto exagerado na acidez em relação ao resto do anime. Sem muita profundidade e até mesmo uma conexão muito grande entre os episódios, acompanhamos o trabalho e os bastidores do programa de TV infantil estrelado por Uramichi e seus colegas e dá pra entender muito bem por que todos têm aquela depreciação, além de estarem em um emprego que com certeza não foi a primeira opção de nenhum deles ali, ainda são submetidos às situações mais bizarras impostas pelo chefe, um diretor sem noção. A gente acaba vendo que lidar com as crianças era o menor dos problemas ali.
Devo dizer que o que mais me impressionou mesmo foram quantas vezes colocaram a Mizuki Nana e Miyano Mamoru para cantar as musiquinhas ridículas para as crianças, haja orçamento! Mesmo depois do final do anime, vira e mexe me pego cantando o ABC da música de abertura, esse definitivamente foi um legado que Uramichi Onii-san deixou no meu cérebro. Sem mais delongas, com certeza não é um anime grandioso, e isso não é um problema, pois a meu ver foi uma produção ok, conseguiu me tirar boas risadas e ser um refresco ácido para meu inicio de semana.
7.0/10
Vanitas no Carte [Lucy]
É ótimo que este seja um anime split-cour, porque a impressão que tenho é que tudo o que vimos até agora foi apenas uma introdução ao mundo de Vanitas. Não quero dizer que tivemos poucos ocorridos nessa primeira temporada — muito pelo contrário, já fomos expostos a vários elementos do universo, mas a impressão que ficou é que isso tudo é apenas a base que fundamentará a aventura principal.
O anime entregou o que eu esperava: uma boa construção de mundo, com personagens carismáticos e uma parcela de mistérios pessoais a serem explicados. Algumas revelações importantes já começaram a ser feitas no final desse cour, mas ainda há muito o que ser revelado em vários aspectos. Por hora, garanto que me diverti bastante conhecendo Vanitas, Noé, e os elementos que os cercam. A dinâmica entre os personagens — tanto eles entre si, quanto suas interações com outros secundários — é uma das melhores partes do enredo. Os pequenos momentos de comédia e romance são ótimas intermissões entre episódios mais densos em desenvolvimentos, sem comprometer o ritmo geral da história. Falando nisso, aliás, uma coisa que eu certamente não esperava era a tensão sexual presente em algumas cenas… mas isso é uma história de vampiros, certamente combina demais! Não tenho como negar, e também não estou reclamando…
Outro ponto alto são os elementos audiovisuais: como exaltei lá no início da temporada, Vanitas é um anime com visuais muito bonitos. Não consegui notar decaídas na animação, e a ambientação de uma Paris cyberpunk ficou ótima! O último episódio, onde Vanitas e Jeanne passeiam pela cidade, fez até parecer que a equipe de backgrounds simplesmente queria demonstrar o quão capazes eles são (e conseguiram), só porque sim. Mais um elemento que me fascinou nessa frente foi a fidelidade dos designs dos personagens quando comparados ao mangá. Parece algo pequeno, mas dada minha admiração pela arte do original, fiquei encantada.
Vanitas no Carte foi muito agradável de acompanhar, trazendo uma produção que deu gosto de assistir. A direção fez um ótimo trabalho, e toda a equipe de animação está de parabéns pelo trabalho maravilhoso. Eu quero muito ler o mangá, mas vou me segurar até o lançamento da segunda temporada. Se o nível dessa primeira parte se manter, com certeza a espera vai valer demais a pena!
Um comentário em “Impressões finais: temporada de verão (2021)”