Para encerrar a primeira metade de 2022 tivemos uma temporada de alta qualidade. Embora nem todas as nossas apostas tenham se saído tão bem quanto o esperado, estou certa de que pelo menos algumas competirão pelo título de AOTY (anime of the year) nas premiações de fim de ano.
Nesta postagem vocês poderão conferir as nossas impressões finais de BIRDIE WING -Golf Girls’ Story-, Dance Dance Danseur, Gunjou no Fanfare, Kawaii dake ja Nai Shikimori-san, Paripi Koumei e SPY x FAMILY.
*AOASHI, Love All Play e Summertime Rendering foram confirmados com dois cours, então estes títulos aparecerão nas nossas impressões finais da próxima temporada.
BIRDIE WING -Golf Girls’ Story- [Lucy]
É um pouco complicado falar sobre o final da primeira temporada de Birdie Wing, já que não teve final. O último episódio termina como qualquer outro, com uma prévia da próxima parte que só vai ao ar daqui a seis meses, mas quem vê sem saber acha que é semana que vem. Completamente nem aí para o que se espera do encerramento de um cour, o que é bem característico do anime, para ser sincera!
Enquanto o ritmo do enredo é até bem constante, o que ele quer contar não poderia ser mais diferente: a partir da rotina de golpes e apostas da protagonista Eve, vamos parar num torneio onde encontra sua predestinada rival e alma gêmea Aoi. Ao fim desse torneio, ela acaba se envolvendo mais profundamente com a máfia, o que nos leva a uma situação que se eu quisesse descrever por completo, me faria soltar um ALERTA DE SPOILER DE MORTE DE PERSONAGEM. NUM ANIME DE GOLFE. Depois disso, Eve precisa fugir do país e vai para o Japão, iniciando seu arco de ensino médio, reencontra sua amada Aoi, com quem estava webnamorando jogando golfe em realidade virtual nesse meio-tempo, e forma uma dupla com ela no torneio intercolegial.
Treze episódios, pessoal.
Por incrível que pareça, no meio dessa maluquice frenética tem uns momentos de lucidez. Eve e sua família têm uma origem um tanto delicada e passam por situações complicadas, mas são tratados de maneira respeitosa, sem tanta vontade de chocar. Também gosto muito da relação entre as protagonistas, que é um tanto direta ao ponto: no episódio final, uma já está prometendo beijos a outra como recompensa após o jogo. Se no segundo cour quiserem justificar isso como só amizade, vai ser uma acrobacia sinistra pros escritores.
Birdie Wing parece um anime que foi enfiado numa máquina do tempo — parece que veio transportado de uma temporada de quinze ou vinte anos atrás. Digo isso como elogio, porque ele tem uma energia tão gostosa quanto é brega e exagerada. O visual e especialmente a trilha sonora corroboram com isso, e eu adorei o resultado final. Se bem que sendo sincera, não tem muito o que odiar num anime onde a frase “vou te matar no golfe” é levada a sério. Estarei empolgada esperando pela segunda temporada, que para mim só pode acabar com o casamento temático entre Eve e Aoi, onde elas trocarão bolinhas em vez de alianças, e haverá um Gundam gigante como cerimonialista. Será lindo.
7.0/10
Dance Dance Danseur [Lucy]
E eu achando que o protagonista já era complexado o suficiente…
No início do anime tivemos o esperado foco na carreira do Junpei, mostrando seus ensaios, dificuldades e processo para ser aceito. O conflito entre esforço e talento inato é clássico de histórias relacionadas a artes e esportes, e enquanto isso foi explorado ao decorrer da série, o negócio foi evoluindo até se tornar um Casos de Família com roupagem de balé. Piadas à parte, a segunda metade foi tomada pelos dramas do rival Luou, derivado de anos de abuso sofrido pelas mãos de uma avó obcecada em transformá-lo no que ela gostaria de ser. Não apenas isso afeta a carreira dele, mas a do Junpei também, e acaba até sendo um impulso para o amadurecimento do nosso protagonista.
Entretanto, enquanto essa disputa é bem trabalhada ao mostrar as diferenças inerentes entre os dois, uma decepção que tive no anime foi com a Miyako. No final das contas, ela realmente foi reduzida não apenas a interesse romântico, mas como “prêmio” a ser disputado, num paralelo com a história do Lago dos Cisnes. Ao mesmo tempo, faz sentido até certo ponto pela história ser narrada pelo ponto de vista do Junpei — então isso até pode dizer mais sobre o personagem do que a história, considerando que a Miyako reclama em certo ponto de que o Junpei não levou em consideração o que ela queria, em vez do que ele achava correto. É legal ter personagens imperfeitos e que cometem erros, só que rolou isso tudo pra no final ela virar e falar “pensando bem, também acho que deveria fazer isso aí”, então… deixou um gosto bem ruim. Sim, são adolescentes, é ficção, é uma história incompleta e pode ser que ela mude de ideia, mas não deixa de ser frustrante.
Pensando nos positivos, as cenas de balé são belíssimas. Muito bem dirigidas, com o destaque indo para os momentos de desequilíbrio do Luou. A produção se sustentou bem, mantendo uma simplicidade agradável — também não ouvi nada sobre a equipe ter passado por dificuldades, então é um grande positivo. É uma obra que me levou a buscar o mangá, porque estou curiosa de verdade para descobrir os próximos passos de Junpei na dança e como vai ficar a relação dele com o pessoal do estúdio Godai (se é que eles ainda vão manter relações, considerando as decisões tomadas no último episódio). A autora montou uma pequena bagunça aqui e eu imagino que desse ponto em diante, os relacionamentos entre todos só vão ficar mais complicados. Como honestamente não consigo ver chances de uma segunda temporada, o jeito vai ser apelar pros métodos alternativos…
7.0/10
Gunjou no Fanfare [Lucy]
Se você gosta de anime de esporte pela competição, essa não é a obra pra você. Se você gosta por causa das relações entre os esportistas, não sei se será muito do seu gosto. Mas se você gosta pelo drama… Tenho algo para você aqui.
Eu entrei sem expectativas e até que saí bem satisfeita, apesar do ritmo frenético do anime: os 13 episódios cobrem os três anos do Ensino Médio de Yu e seus colegas, com cada ano escolar tendo seu arco isolado. Inclusive, não esperava que o Shun fosse ser tão protagonista quanto o Yu, com o segundo ano da história completamente dedicado ao ponto de vista dele. Apesar desses saltos temporais e da discrepância entre as histórias contadas, foi agradável de acompanhar. Inclusive, o anime conseguiu o milagre de dar certo nível de destaque para os secundários mesmo com tão pouco tempo. Até mesmo o professor teve sua história contada! Destaco o conflito do Hayato, que talvez exija um aviso de conteúdo para o anime — ele quase desenvolve um distúrbio alimentar ao longo de um episódio, mas a situação é resolvida sem muito sensacionalismo.
Não é uma grande obra, mas cumpre bem ao que se propôs. O drama é clichê à beça, mas preciso admitir que apesar da quantidade absurda de red flags levantadas, eu ainda assim fiquei triste quando uma situação óbvia aconteceu (em minha defesa, eu tava numa fase meio sensível). Passa longe de ser revolucionário, mas é uma boa pedida para quando você quer algo nesse clima dramático, sem precisar pensar muito sobre o que está assistindo.
6.0/10
Kawaii dake ja Nai Shikimori-san [Ana]
Em breve.
Paripi Koumei [Mari]
Embora Paripi Koumei inicialmente não estivesse no radar de muita gente, eu já dizia lá em fevereiro que esse anime tinha o potencial de ser incrível ou um grande erro. Pois bem, é com uma imensa alegria que informo: sim, Paripi Koumei é sensacional! Ainda que a indústria esteja saturada de obras do gênero isekai, Yotsuba Yuuto e Ogawa Ryou, criadores do mangá, foram competentes em mostrar que é possível pegar uma premissa pouco inovadora e transformá-la em algo totalmente diferente do que se tinha visto até então.
Paripi Koumei une o interesse pelo período dos Três Reinos à paixão pela música e assim acompanhamos o renascimento da figura histórica de Kongming, considerado um dos maiores estrategistas militares da história, em um mundo que não vive mais apenas de guerra. Kongming, então, se adapta a sua nova realidade e vê-se encantado pela música atual, apaixonando-se à primeira vista pela voz da EIKO. Assim, o ex-general se junta à EIKO em sua jornada por reconhecimento e utiliza todo o seu intelecto para transformar a sua nova mestra em uma estrela.
Apesar de ser uma obra que não se leva muito a sério, Paripi Koumei traz críticas pertinentes à indústria musical. Acompanhar a trajetória de uma cantora amadora que até a chegada de Kongming só era ouvida por uma meia dúzia de pessoas e que ao final da história estará no palco de um dos maiores festivais de música do planeta significa observar de perto as dificuldades enfrentadas por artistas independentes. Não importa o quão talentoso você seja, se não tiver grana nem contatos, as chances de você decolar são geralmente remotas. Assim, vemos que muitas vezes pessoas talentosas são deixadas para trás, enquanto outras fazem sucesso mesmo sendo o puro suco comercial. Há também aqueles que acabam por vender a sua alma em troca de reconhecimento e depois se arrependem disso. Mesmo com os óbvios exageros que estão lá pela comédia ou por conveniência do enredo (as aplicações de estratégias militares como forma de impulsionar a carreira da EIKO sempre dão certo, por exemplo), é nítido que Paripi Koumei tem uma mensagem genuína para aqueles que amam e respiram música.
Vale ressaltar ainda que, em termos técnicos, Paripi Koumei está dentro do padrão de qualidade que o estúdio P.A. Works costuma oferecer. Há uma diversidade de character designs, os cenários são bonitos, a animação é fluida, e a trilha sonora é muito boa (em especial mal posso esperar para sair a coletânea com todas as insert songs!). O P.A. Works é mais conhecido pelos seus trabalhos originais do que por suas adaptações, mas levando em consideração que Uchouten Kazoku foi feito por eles e ainda assim recebeu uma segunda temporada, ficarei na torcida para que o mesmo aconteça com Paripi Koumei, afinal, apenas quatro dos dez volumes já publicados do mangá foram adaptados para as telinhas.
8.5/10
SPY x FAMILY [Ana]
Eu gostaria de agradecer a todos os envolvidos pela adaptação de Spy x Family! Apenas a premissa de uma família formada por um pai espião, uma mãe assassina e uma filha adotiva telepata – sem que a princípio nenhum saiba o segredo do outro – já é algo interessante por si só, mas a execução acaba sendo ainda melhor que a expectativa.
Embora o anime tenha cenas de ação e a questão da espionagem permeie toda a história, percebemos que o foco principal de Spy x Family é mais o humor por trás de todas as situações que essa família inusitada e recém formada tende a passar. Desde ir à entrevista de admissão da Anya no colégio, conhecer o irmão da Yor (o qual parece nutrir um sentimento não apenas de irmão), ou até mesmo as interações da Anya com os colegas de sala. É até um pouco clichê, mas não deixa de ser engraçado que o Damian, filho do Desmond, pareça nutrir uma paixãozinha por ela, ao mesmo que tempo que não pretende admitir isso facilmente.
Por mais que haja todo um plano por trás, é bastante interessante ver as relações de afeto, principalmente do Loid e da Yor com a Anya sendo construídas, e espero que a relação dos próprios Loid e Yor também seja estreitada com o desenvolver da história. Foi muito interessante ver as habilidades da Anya sendo usadas para descobrir que um menino estava se afogando (só não foi melhor do que nos momentos em que ela usa pra ver que alguém está mentindo haha), assim como quando é mostrado as aptidões físicas da Yor, e espero que isso também seja mais explorado, e ainda acharia legal entender mais sobre o plano do Loid. De qualquer forma, os personagens principais são bastante carismáticos, o que faz até as cenas mais simples com eles serem ótimas e acredito que seja isso que faz Spy x Family funcionar tão bem.
Já sabemos que uma segunda parte foi confirmada para outubro desse ano, o que me faz relevar um pouco que esse “final” não teve bem uma cara de final, já que não foi exatamente uma temporada completa, tirando isso e o fato de eu sentir que às vezes as coisas acontecem de forma um pouco lenta, praticamente não tenho o que reclamar da adaptação. Como eu já comentei, o anime é muito divertido mesmo nas cenas mais simples, mas acredito que todo mundo quer ver mais da história e se envolver ainda mais. A verdade é que 12 episódios foram pouco e mal posso esperar pela próxima parte!
Um comentário em “Impressões finais: temporada de primavera (2022)”