Esse texto foi originalmente postado em 2 de agosto de 2016
Encontrei mais uma leitura interessante para nós que nos propomos a discutir sobre a representatividade LGBT e as dificuldades encontradas por LGBTs no Japão. Confiram a tradução abaixo:
[Matéria originalmente publicada no dia 15 de junho pelo jornal The Japan Times]
Em pé, perante a 140 estudantes do ensino médio, Subaru Yamashita descreve como ele é física e emocionalmente homem e se atrai por outros homens.
“Há mais do que apenas masculino e feminino quando se trata do gênero físico e mental de uma pessoa, e o sexo pelo qual as pessoas se apaixonam também varia”, Yamashita, 25, disse em uma palestra de divulgação/orientação no Colégio Daishi, Kawasaki, no mês passado.
“Gênero não é apenas uma questão de amor e romance. É uma parte importante de uma pessoa.”
Yamashita, membro do ReBit, um grupo de apoio a pessoas LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) com base em Tóquio, aproveitou a ocasião para oferecer aos estudantes um melhor entendimento sobre as minorias sexuais.
A sessão seguiu com discussões em grupo incluindo outros membros do ReBit.
“Eu fui rejeitado quando me declarei para um colega na nossa cerimônia de formatura”, um membro disse aos estudantes. “Mas eu fiquei feliz porque ele disse, ‘Obrigado. Ainda serei seu amigo e sempre estarei ao seu lado’.”
Os rostos dos estudantes ficaram visivelmente mais sérios conforme eles escutavam.
“Quais são as coisas mais importantes da vida?” um deles perguntou, enquanto outro questionava, “qual a sua opinião sobre criar crianças?”.
De acordo com uma pesquisa online feita pela empresa de marketing Dentsu Inc. em 2015, entre 70.000 japoneses e japonesas que tenham de 20 a 59 anos, 7,6% – ou 1 em cada 13 pessoas – se identificam como LGBT.
A nível escolar, especialistas acreditam que haja crianças LGBTs em todas as salas. No entanto, muitos professores não possuem um entendimento apropriado sobre a questão e esses estudantes frequentemente sofrem com abuso. Incapazes de falar sobre esse assunto com seus pais ou professores, eles se sentem isolados e consideram até mesmo o suicídio.
Uma pesquisa feita pelo Human Rights Watch com 450 japoneses abaixo de 25 anos que se identificam como LGBTs mostrou que 86% deles tinham sido vítimas de insultos homofóbicos e comentários negativos.
O abuso verbal que eles passaram incluía ouvir coisas como “desapareça porque você é nojento” e “não chegue perto de mim”.
A retórica anti-LGBT também veio de professores. “A homossexualidade não é algo natural e não é moralmente desejável” era um comentário típico.
Outra pesquisa comissionada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social descobriu que cerca de 65% dos meninos LGBTs entre 10 e 19 anos consideraram suicídio, e 16% realmente tentaram se matar.
Entretanto, mais e mais professores estão tomando ciência do problema e organizando oficinas e discussões com seus colegas.
Em uma dessas oficinas, cerca de 20 professores dos ensinos fundamental e médio participaram de discussões em maio em Tóquio.
“Durante uma excursão escolar, um estudante gay reclamou que ele não queria ficar nu na frente de outros meninos”, um professor disse, referindo-se a uma excursão em que eles pernoitariam e os estudantes tinham que tomar banho juntos nas fontes termais do lugar que ficariam acomodados.
Alguns professores também questionaram o quão apropriado é o currículo de educação japonês que ensina sobre casamento e a criação de uma criança.
Outro professor participante relatou que a “saída do armário” de um professor LGBT ajudou a aumentar a conscientização sobre o assunto entre outros professores e funcionários da escola.
Medidas para aumentar a conscientização pública sobre a comunidade LGBT e questões de direitos humanos estão começando, gradualmente, a se firmar no Japão.
O Ministério de Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia compilou um panfleto em abril falando sobre como apoiar estudantes que fazem parte de minorias sexuais.
Uma liga parlamentarista com o objetivo de estabelecer leis para eliminar a discriminação contra pessoas LGBTs também foi formada.
No ano passado, a administração de Shibuya, Tóquio, começou a emitir certificados reconhecendo relações estáveis entre pessoas do mesmo sexo como equivalentes à certidão de casamento. Algumas empresas também começaram a reconhecer e apoiar funcionários LGBTs.
“O gênero de uma pessoa faz parte da identidade dela. Se for negado, a pessoa enfrentará uma baixa autoestima”, disse Mika Yakushi, diretora representativa do ReBit.
“Oferecer informação e apoio apropriado para as respectivas faixas etárias é necessário para que as crianças não tenham que passar por tudo sozinhas.”