Vamos Problematizar? | A influência do revisionismo histórico japonês nos animes e mangás: a controvérsia de Boku no Hero Academia é apenas um reflexo de um problema muito maior

A controvérsia recente de Boku no Hero Academia deixou muita gente de cabelo em pé. Conforme explicamos nesta postagem, o autor da obra, Horikoshi Kouhei, assim como o departamento editorial da Shueisha, responsável por sua publicação, cometeram um erro gravíssimo no início da semana passada. Além de nomearem um personagem desconsiderando o peso histórico do termo escolhido, eles também se recusaram, em um primeiro momento, a reconhecer e se desculpar pelo erro, limitando-se a negar a óbvia correlação entre uma coisa e outra e afirmando que mudariam o nome na edição encadernada.

Ainda que a decisão de mudar o nome fosse a correta, foi justamente o não reconhecimento do erro e a ausência de um pedido de desculpas sincero imediatos que fizeram com que muitos dos fãs continuassem descontentes com a editora e, consequentemente, com o autor. No Twitter, milhares de fãs coreanos e chineses levantaram tags, pedindo que Horikoshi se desculpasse, afirmando que “heróis não magoam pessoas inocentes”. [1]

Também em resposta à controvérsia, a China suspendeu temporariamente na última terça-feira (04) a publicação do mangá em suas maiores plataformas – Bilibili e Tencent – sob a justificativa de que seu conteúdo não correspondia às políticas chinesas. Embora alguns episódios ainda estivessem disponíveis, eles receberam uma avalanche de críticas negativas: no Weibo, por exemplo, as postagens relacionadas ao incidente já ultrapassavam 15 milhões de visualizações e 6.000 comentários em 12 horas. [2] Mais tarde, a Bilibili removeu o anime de sua plataforma de vídeo, e o jogo de RPG My Hero Academia: Strongest Hero, que estava sendo desenvolvido pelo estúdio chinês Xin Yuan e seria publicado pela Tencent, também foi retirado de sua página no TapTap, ainda que seu cancelamento oficial não tenha sido anunciado. [3]

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A China possui o segundo maior mercado de entretenimento do mundo, cuja receita deve chegar a 435 bilhões de dólares até 2023 de acordo com estimativas do PwC. [4] Sendo assim, não há dúvidas de que essa repercussão negativa de Boku no Hero Academia afetaria diretamente a indústria dos animes e mangás, e a Shueisha precisava agir rápido se não quisesse sofrer perdas ainda maiores. Conforme o esperado, um novo comunicado foi divulgado pela editora na quinta-feira (06):

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“Referente ao nome “Maruta”, dado a um personagem que apareceu no capítulo 259 de Boku no Hero Academia, publicado na edição 10 da Weekly Shounen Jump de 2020 (lançada dia 3 de fevereiro), muitos leitores estrangeiros, incluindo chineses, apontaram que esse nome trazia à tona eventos históricos. O personagem que apareceu nesse capítulo foi chamado de “Maruta”, mas nunca houve a intenção de relacioná-lo com eventos históricos passados. Entretanto, a combinação do nome com o contexto do personagem como médico de uma organização do mal causou irritação, especialmente na China. O departamento editorial deveria ter examinado profundamente o nome antes de sua publicação, por isso pedimos nossas mais sinceras desculpas. Levaremos essa questão a sério e mudaremos o nome do personagem quando os volumes físicos e digitais forem impressos e lançados. No futuro, continuaremos a nos esforçar para aprofundar o nosso conhecimento de diversas histórias e culturas para nunca mais causar esse tipo de problema de novo, e entregaremos um mangá que todos irão gostar e apreciar, levando em consideração o sentimento de todos.”

Em seguida, a editora incluiu o pedido de desculpas do autor:

“Eu realmente sinto muito que muitas pessoas tenham ficado desconfortáveis e irritadas com o nome “Maruta”, que apareceu no capítulo 259 de Boku no Hero Academia. A admiração do personagem em relação ao ex-“All For One” e à Liga dos Vilões fez com que ele quisesse ficar mais próximo de sua existência, por isso seu nome foi dado a partir de “Shigaraki”, de onde veio o “Shiga”, e “Maruta” no sentido de “redondo e gordo”. Tudo foi acidental e eu não tinha intenção alguma de magoar nenhum leitor. Peço desculpas do fundo do meu coração e farei o meu melhor para que essa situação nunca mais se repita.” [5]

A menção exclusiva à China e aos fãs chineses no segundo comunicado oficial emitido pela Shueisha é uma prova de que a editora só ficou realmente preocupada em controlar os danos quando começou a doer no bolso. Apesar disso, o autor pareceu de fato ter se arrependido, e esse ocorrido serviu para demonstrar que já passou da hora de o Japão entender que as pessoas não vão mais aceitar esse tipo de atitude – fingir ignorância ou tentar varrer questões históricas para debaixo do tapete – e eles têm que mudar. Aliás, toda essa controvérsia só teve início por causa de um problema ainda mais grave: o revisionismo histórico japonês.

A falta de consciência histórica de Horikoshi Kouhei, assim como de muitos outros de sua geração, é produto de uma política ativa do governo japonês de tentar esconder as atrocidades que foram cometidas pelo país durante o período imperial, a começar pelo sistema educacional e a forma que eles ensinam história. Em uma matéria publicada na BBC, Oi Mariko conta sua experiência como uma japonesa que estudou a maior parte de sua vida no Japão e mais tarde se mudou para a Austrália. Segundo ela, pouco se fala sobre os eventos que ocorreram entre 1931 e 1945. Ela exemplifica a situação com o livro que foi utilizado em sua época:

“[…] Havia uma página sobre o que é conhecido como o incidente de Mukden, quando soldados japoneses explodiram uma ferrovia na Manchúria, na China, em 1931. Havia uma página sobre outros eventos que levaram à guerra sino-japonesa em 1937 – incluindo uma linha, em uma nota de rodapé, sobre o massacre que ocorreu quando as forças japonesas invadiram Nanquim – o Massacre de Nanquim, ou o Estupro de Nanquim. Havia outra frase sobre os coreanos e os chineses que foram trazidos para o Japão como mineiros durante a guerra, e uma linha, novamente em nota de rodapé, sobre “mulheres de conforto” – uma unidade de prostituição criada pelo Exército Imperial do Japão. Havia também apenas uma frase sobre os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki.” [6]

Enquanto isso, as crianças na China aprendem detalhadamente, não apenas sobre o Massacre de Nanquim – um episódio de assassinato em massa que teve início quando os japoneses desembarcaram em Nanquim, a capital chinesa na época, e durou seis semanas. Não há um consenso quanto ao número de mortes, mas as estimativas apontam algo em torno de 250 e 300 mil mortos. Os soldados eram torturados, enforcados e fuzilados, enquanto os civis eram massacrados nas ruas; as mulheres, se não fossem enviadas aos bordéis para servirem como escravas sexuais dos soldados japoneses, eram estupradas e mortas em seguida (cerca de 20 mil mulheres tiveram esse fim, que incluía meninas com menos de dez anos de idade) [7] –, mas também sobre vários outros crimes de guerra japoneses, e o mesmo acontece na Coreia do Sul, onde o sistema educacional coloca grande ênfase em história moderna. Parece óbvio que, com um ensino tão limitado da história, as gerações mais novas de japoneses realmente não teriam como compreender a gravidade dos crimes cometidos pelo seu país e a importância de estudá-los, e é assim que surgem os revisionistas históricos na política.

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Os revisionistas históricos japoneses não só negam o Massacre de Nanquim, por exemplo, como também reagem negativamente a qualquer crítica que parta de estrangeiros. Se você for um estrangeiro que não elogie absolutamente todos os aspectos do Japão ou aponte o passado obscuro do país, você será classificado como um “hater”, um inimigo da nação. [8] Nakano Koichi, em um capítulo de livro intitulado “The Legacy of Historical Revisionism in Japan in the 2010s”, explica com detalhes de que forma o movimento dos revisionistas históricos, após uma virada do Japão à direita, se fortaleceu no país. Entre os diversos motivos apontados pelo autor, eu gostaria de destacar o seguinte trecho:

“[…] Essa mudança também foi um reflexo da rápida rotação geracional que ocorreu nos anos 90. Cinquenta anos no pós-guerra, a velha geração, com experiência direta em tempos de guerra, estava sendo substituída por um novo grupo de políticos que nasceram após a Segunda Guerra Mundial. Conforme eles construíam sua carreira política no período pós-Guerra Fria e à medida em que a norma neoliberal rapidamente ascendia, sua visão de mundo e o entendimento da história se tornavam diferentes dos da geração anterior. Abe foi o porta-estandarte dessa nova geração de políticos (em muitos casos, hereditários), que desafiou as convenções e tabus do pós-guerra e questionou as resoluções e os empréstimos existentes como traições dos valores e da singularidade tradicionais japoneses – acima de tudo, a “verdade” histórica que o Japão nunca errou.” [9]

Assim, o revisionismo se tornou uma parte integral da ideologia da Nova Direita e, ao lado do neoliberalismo, se tornou a nova ortodoxia do governo conservador japonês no pós-“década perdida”. O liberalismo econômico deixou de ser acompanhado pelo liberalismo político e, em vez disso, passou a ser complementado pelo revisionismo histórico.

Não é de se espantar, portanto, que o povo japonês muitas vezes não consiga entender por que os países vizinhos guardam ressentimento pelos eventos que ocorreram nas décadas de 30 e 40, afinal, eles mal aprenderam a história do século XX, e o governo faz questão que eles comprem o discurso do “Japão perfeito”. Levando em consideração toda essa conjuntura, faz sentido que Horikoshi Kouhei não tenha se dado conta da besteira que estava fazendo até a repercussão negativa estourar, e também faz sentido que ninguém tenha barrado a ideia no departamento editorial, se assumirmos que todos são mais ou menos da mesma geração.

Apesar disso, nada justifica o erro: temos que lembrar que Horikoshi Kouhei está mandando uma mensagem para o mundo e, no momento em que ele percebeu que tinha errado, ele deveria ter pedido desculpas e não tentado se justificar com “não era a minha intenção” ou negado a óbvia correlação (que, francamente, era difícil de acreditar considerando o quanto ele se preocupa com o nome dos seus personagens e o contexto que o personagem em questão estava inserido). Quando magoamos alguém, não importa qual tenha sido a nossa intenção, nós temos que pedir desculpas. É simples assim. Os fãs que ficaram bravos com ele tinham razão em estar, e ele só foi tão criticado porque as pessoas se importam com o seu trabalho. É por se importarem com Boku no Hero Academia que os fãs queriam que o Horikoshi Kouhei fizesse a coisa certa (o que ele acabou fazendo, mesmo que não imediatamente).

Essa não foi a primeira vez que o revisionismo histórico japonês mostrou sua clara influência sobre os criadores de animes e mangás. Na minha busca por mais exemplos que eu pudesse usar nesta postagem, eu pedi ajuda para Seri, que além de ser a autora do quadrinho coreano Her Tale of Shim Chong, também é formada em Educação da Língua Coreana pela Universidade de Seul. Reunimos os seguintes exemplos:

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1) Mahouka Koukou no Rettousei

Historicamente a Coreia e o Japão sempre foram parceiros comerciais importantes um para o outro, mas isso não significa que suas relações eram necessariamente pacíficas. No decorrer dos séculos, os dois países alternaram entre comércio amigável e hostilidades. Em um determinado momento da história, a pirataria se tornou um problema grave, o que levou o rei Taejong do reino Joseon a ordenar um ataque à base de piratas japoneses que ficava localizada na ilha de Tsushima em 1419. Embora essa ação não tenha erradicado completamente os piratas, ela permitiu que um acordo comercial fosse firmado com o Japão – o Tratado de Gyehae, estabelecido em 1443. [10]

Em Mahouka Koukou no Rettousei, a ilha de Tsushima é referenciada na história. Isso por si só não seria um problema, porém o nome dado ao país hostil que sequestrou e estuprou a tia de Tatsuya, Maya, foi “Taikan” [11]. “Taikan” tem a mesma pronúncia do nome completo da Coreia. Aqui o autor claramente reverte o papel dos perpetradores e das vítimas, afinal, quem cometia esse tipo de atrocidade era o Exército Imperial Japonês contra outros povos asiáticos.

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2) Sayonara Zetsubou-Sensei

O autor de Sayonara Zetsubou-Sensei, Kumeta Kouji, possui um forte sentimento anti-coreano. Ele costuma usar materiais anti-coreanos em suas obras, além de criticar os EUA e a China com sarcasmo, mas direcionar suas críticas mais pesadas à Coreia. Por outro lado, ele afirma que os japoneses são muito dóceis para serem um problema e age como se quisesse esquecer o histórico de agressão deles.

No episódio 12 da primeira temporada do anime, Nozomu diz: “Nós japoneses aprendemos que causamos um incômodo ao mundo. Isso é paranoia causada pela autodisciplina do Japão no pós-guerra!”. Taro acrescenta: “Trata-se de um bom país [Japão], enquanto vários outros países só querem se fazer de vítimas!”

No volume 15 do mangá, o autor escreve: “Fui a Taiwan para participar de uma sessão de autógrafos com meus fãs. Eu não poderia ter escolhido um momento pior. Um dia antes do evento foi o aniversário do fim da guerra, que é o dia da independência de Taiwan do Japão. Além disso, o Japão venceu Taiwan no beisebol olímpico. Não seria incomum se eu fosse atingido por um tofu podre. Mas todo mundo foi muito gentil comigo. Se eu estivesse em um país específico da Ásia, eles teriam esfregado kimchi nos meus olhos.” E é claro que “um país específico da Ásia” é a Coreia.

No volume 16, o autor desenha um personagem dizendo que “em um país vizinho, há muitas palavras ruins utilizadas para criticar as pessoas; elas são usadas com tanta frequência que é quase como se fossem uma saudação. Sendo assim, não haverá fim se você  resolver prestar atenção nelas.”

No volume 27, Matoi diz “Eu não faço ideia do que isso significa!”. Ao ver o que estava escrito em um pedaço de papel pendurado em uma árvore de bambu onde desejos foram feitos, Matoi diz: “Há muitos eventos históricos irritantes, se é que eles de fato aconteceram”. Os anos escritos no papel eram 1894, 1904, 1910 e 1931. Em 1894 acontece a Primeira Guerra Sino-Japonesa, que resultou no início do controle do Japão sobre áreas estratégicas do Extremo Oriente, como a península da Coreia. [12] Em 1904 ocorre a Guerra Russo-Japonesa, travada por conta da disputa territorial entre os dois países pelos territórios da Manchúria, Port Arthur (localizado na península de Liaodong) e da Coreia. [13] 1910 é o ano em que o Japão assume a soberania da Coreia e 1931 é quando ocorre incidente da Manchúria, ambos peviamente mencionados.

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3) Highschool of the Dead

Um dos personagens acrescentados à história se parecia com o Bae Yong Joon, uma estrela do cinema coreano que era muito popular na época e uma febre até mesmo no Japão, cujos fãs adoravam o seu sorriso. Ele então aparece no episódio 5 do anime como zumbi e recebe um tiro no rosto, seguido da fala “seu sorriso é nojento.”

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4) Top wo Nerae!

O império da Terra neste anime é na verdade o “Império do Japão na Terra”. Na história o Japão dominou os EUA economicamente e continua a prosperar comprando o Havaí dos EUA; os EUA ficam furiosos e dão início à guerra com um ataque surpresa ao Havaí, a exemplo do que aconteceu em Pearl Harbor. O Japão vence a guerra e praticamente unifica o mundo inteiro. Apesar disso, o anime é antigo e a história por trás não fica explícita no enredo.

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5) Super Robot Wars OG

Na versão GBA, o sinal para ataques aéreos contra forças hostis era “tora tora tora”, que foi o mesmo código japonês usado no ataque à Pearl Harbor. Esse código também é frequentemente visto em outros animes (Re:Zero é um exemplo). Os autores não parecem ter muito cuidado ao utilizá-lo. Além disso, no jogo em questão, eles fizeram um soldado coreano dizê-lo. Onde está a responsabilidade deles? Felizmente o código foi excluído de outras séries.

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6) Sugiyama Koichi (Dragon Quest)

Sugiyama Koichi, compositor da trilha sonora de Dragon Quest, disse que o Japão deveria entrar em guerra agora mesmo porque o país está sendo violado pela China, Rússia e Coreia do Sul. Ele quer se livrar da constituição pacifista japonesa. Além disso, Sugiyama financiou um anúncio em jornal que dizia que “a escravidão sexual militar japonesa é uma mentira” e é conhecido por discursar contra a causa LGBT. [14] [15]

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7) Sadamoto Yoshiyuki (Evangelion)

O character designer de Evangelion, Sadamoto Yoshiyuki, atraiu críticas de fãs de anime de todo o mundo por causa de uma série de tweets publicados no ano passado sobre a exposição de arte histórica “After ‘Freedom of Expression’?” no Museu de Arte da Prefeitura de Aichi. A exposição foi cancelada três dias após a sua abertura devido a reclamações que recebeu sobre a escultura de Kim Seo-kyung e a Estátua da Paz de Kim Eun-sung (2011), que retratava uma “mulher de conforto” do período da Segunda Guerra Mundial. Em seus tweets, Sadamoto chamou a estátua de “suja” e “vulgar”, alegando que a arte era simplesmente propaganda sem valor estético. [16]

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8) Sato Fumiya (Kindaichi Shounen no Jikenbo)

Sato Fumiya, autora de Kindaichi Shounen no Jikenbo, acredita que “a escravidão sexual militar japonesa é uma mentira“. Ela participou de uma antologia cômica chamada “J Facts”, um mangá de direita que nega as atrocidades históricas cometidas pelo Japão. Os participantes inclusive tentaram levar a antologia para a exposição de Angouleme na França, mas não foram aceitos.

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9) Sigsawa Keiichi (Kino no Tabi)

Sigsawa Keiichi, autor de Kino no Tabi, tuitou sobre a questão do Santuário de Yasukuni no Dia da Independência da Coreia (também conhecido como o dia da derrota do Japão). Ele insistiu que os políticos japoneses deveriam ignorar os protestos de outros países e visitar Yasukuni todos os dias até que eles (os outros países) se calassem. O Santuário de Yasukuni serve aos criminosos de guerra japoneses e é um local de simbolismo político. O autor também foi criticado por outros posicionamentos semelhantes. [17]

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10) Tsutsui Yasutaka (The Girl Who Leapt Through Time, Paprika)

Yasutaka Tsutsui, autor de The Girl Who Leapt Through Time e Paprika, provocou a ira dos sul-coreanos depois de fazer o que foi amplamente criticado como um insulto obsceno contra uma estátua que referenciava às “mulheres de conforto” em 2017.  Em seu Twitter, ele disse: “Essa garota é fofa. Pessoal, vamos todos ejacular na frente dela e dar um banho de sêmen nela”. [18]

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11) Yamamoto Yutaka (Kannagi, Wake Up, Girls!)

Yamamoto Yutaka é um famoso diretor de anime japonês que afirmou que o Japão durante a Segunda Guerra Mundial era um bom país porque eles levaram educação, infraestrutura e enriqueceram o povo colonial. Trata-se de um argumento típico da extrema-direita que ignora todos os problemas derivados a partir disso.

Como vocês podem ver, o revisionismo histórico japonês é bastante presente na indústria dos animes e mangás, o que me leva a crer que essa controvérsia recente não será a última. No entanto, o que aconteceu nesses últimos dias é uma lição – não só para o autor de Boku no Hero Academia e sua editora, mas também para o povo japonês e o público que acompanha a obra. Não era “só um nome”, e estudar história é fundamental.

REFERÊNCIAS:

[1] Clique aqui para ver as tags que estavam sendo utilizadas no momento.

[2] ABACUS. Hit manga My Hero Academia removed in China over war crimes reference. South China Morning Post. 04 fev. 2020. Disponível em: <https://www.scmp.com/tech/apps-social/article/3048990/hit-manga-my-hero-academia-removed-china-over-war-crimes-reference?utm_term=Autofeed&utm_medium=Social&utm_source=Twitter#Echobox=1580834477&gt;. Acesso em: 05 fev. 2020.

[3] LOVERIDGE, Lynzee. My Hero Academia Manga, Anime Removed from Chinese Digital Platforms. Anime News Network. 05 fev. 2020. Disponível em: <https://www.animenewsnetwork.com/interest/2020-02-05/my-hero-academia-manga-anime-removed-from-chinese-digital-platforms/.156125&gt;. Acesso em: 05 fev. 2020.

[4] Clique aqui para ver o comunicado oficial. A tradução foi baseada neste fio.

[5] PWC. China Entertainment & Media Outlook 2019-2023. Disponível em: <https://www.pwccn.com/en/industries/telecommunications-media-and-technology/china-entertainment-and-media-outlook-2019-2023.html&gt;. Acesso em: 05 fev. 2020.

[6] OI, Mariko. What Japanese history lessons leave out. BBC. 14 mar. 2013. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/magazine-21226068&gt;. Acesso em: 05 fev. 2020.

[7] VAN DEURSEN, Felipe. O que foi o estupro de Nanquim?. Super Interessante. 04 jul. 2018. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-estupro-de-nanquim/&gt;. Acesso em: 06 fev. 2020.

[8] CORTAZZI, Hugh. Japan’s prickly revisionists. The Japan Times. 14 abr. 2015. Disponível em: <https://www.japantimes.co.jp/opinion/2015/04/14/commentary/japan-commentary/japans-prickly-revisionists/#.XjswrIh7ncc&gt;. Acesso em: 05 fev. 2020.

[9] NAKANO, K .The Legacy of Historical Revisionism in Japan in the 2010s. In: ROZMAN, G. (Org.). Misunderstanding Asia: International Relations and Comparisons in Northeast Asia. New York: Palgrave Macmillan, 2015, cap. 10, p. 213-225.

[10] CARTWRIGHT, Mark. Ancient Korean & Japanese Relations. Disponível em: <https://www.ancient.eu/article/982/ancient-korean–japanese-relations/&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[11] MAHOUKA KOUKOU NO RETTOUSEI WIKIA. Timeline. Disponível em: <https://mahouka-koukou-no-rettousei.fandom.com/wiki/Timeline&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[12] FERNANDES, Cláudio. Primeira Guerra sino-japonesa. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/primeira-guerra-sino-japonesa.htm&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[13] NEVES, Daniel. Guerra Russo-Japonesa. Brasil Escola. Disponível em: <https://guerras.brasilescola.uol.com.br/seculo-xx/guerra-russojaponesa.htm&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[14] PLUNKETT, Luke. The Sad Story of a Japanese Gaming Legend who Pretends War Crimes Never Happened. Kotaku. Disponível em: <https://kotaku.com/the-sad-story-of-a-japanese-gaming-legend-who-pretends-5901590&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[15] HART, Aimee. Anti-LGBT Dragon Quest Composer Spurs Square Enix Response. Game Revolution. Disponível em: <https://www.gamerevolution.com/news/415401-anti-lgbt-dragon-quest-composer-spurs-square-enix-response&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[16] MORRISY, Kim. Evangelion Character Designer Yoshiyuki Sadamoto Attracts Criticism Over ‘Dismissive’ Tweet about Korean Comfort Women Statue. Anime News Network. Disponível em: <https://www.animenewsnetwork.com/interest/2019-08-12/evangelion-character-designer-yoshiyuki-sadamoto-attracts-criticism-over-dismissive-tweet-about-korean-comfort-women-statue/.149952&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

[17] Mais informações neste tweet.

[18] OSAKI, Tomohiro. Japanese novelist sparks outcry in South Korea with insults about ‘comfort woman’ statue. The Japan Times. Disponível em: <https://www.japantimes.co.jp/news/2017/04/10/national/japanese-novelist-sparks-outcry-south-korea-insults-comfort-woman-statue/#.XkHjioh7ncd&gt;. Acesso em: 10 fev. 2020.

11 comentários em “Vamos Problematizar? | A influência do revisionismo histórico japonês nos animes e mangás: a controvérsia de Boku no Hero Academia é apenas um reflexo de um problema muito maior

  1. Ótimo artigo.

    Parece que o ressentimento do Povo Japonês, fica ainda mais evidente quando esses não fazem a discussão da sua própria cultura, de seu passado de negro e do não questionamento das atrocidades como se isso levasse a queda de seu prestígio. O que recai ainda mais sobre seus leitores reacionários do ocidente(visto que muitos questionam que o politicamente correto está “destruindo” a liberdade de expressão), sendo que o não questionamento de qualquer ato, cultura, politica, manifestações leva a ignorância pessoa!
    (queria falar mais coisa, mas estou com preguiça de escrever).

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  2. Não estou justificando as ações do governo japonês (até pq sou libertário) mas acho que tem dois motivos para isso estar acontecendo. O primeiro é que boa parte dos japoneses(principalmente os mais velhos) querem realmente esquecer tais crimes que levaram na visão deles a maior vergonha da história do Japão. E o segundo é em si a China que já deixou bem clara suas intenções hegemônicas na região, fazendo assim com que não exista qualquer tipo de relação amistosa entre os dois países, com alguns analistas militares prevendo um possível grave conflito entre eles, com isso o governo japonês busca apagar o máximo possível os acontecimentos passados para que ele possa ter apoio da população e mudar a constituição de lá que não o permite se rearmar para esse conflito, que muito provavelmente se não houver nenhuma mudança por parte do Japão e dos USA vai ocorrer cedo ou tarde já que a balança de poder na região está desequilibrada.

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