
Esse texto foi originalmente postado em 8 de março de 2017
A postagem está saindo um pouco atrasada por motivos de saúde da minha pessoa, mas é claro que eu não poderia deixar o Dia Internacional da Mulher passar em branco aqui no blog. O Rukh no Teikoku surgiu com a minha necessidade (e de outras mulheres também) de expressar criticamente a nossa visão sobre o conteúdo dessa mídia (animes e mangás) que consumimos.
Conforme já discutimos aqui outras vezes, o Japão ainda é um país extremamente conservador no qual temos poucas mulheres em posições de poder (embora isso venha mudando aos poucos em anos recentes), as trabalhadoras precisam lutar até para que possam usar os próprios sobrenomes, as mães solo enfrentam problemas financeiros (muitas ficando abaixo da linha de pobreza) e a própria língua japonesa escancara o modo inferior com o qual as mulheres são vistas e tratadas pela sociedade [Edit da repostagem: Infelizmente não conseguimos recuperar as duas postagens anteriores que eram citadas]. Levando tudo isso em consideração, não é à toa que há uma falta de protagonismo feminino nos animes e não surpreende que a representação das personagens femininas seja muitas vezes terrível.
Entretanto, existem mulheres maravilhosas nessa indústria que merecem ser conhecidas e exaltadas por nós. A luta continua e o caminho a ser percorrido ainda é longo, é verdade, mas não podemos nos esquecer de que já há mulheres batalhando pela nossa causa e fazendo diferença nessa indústria (infelizmente) tão machista dos animes e mangás.
Mangakás
Antes de mais nada, é preciso ressaltar a importância das demografias shoujo e josei, construídas historicamente como um espaço de legitimação criativa para que as mulheres pudessem escrever para outras mulheres e expressar sua criatividade como artistas. Foram o shoujo e o josei que deram às mangakás uma oportunidade para que pudessem produzir artisticamente, trabalharem com aquilo que gostam e terem as suas obras divulgadas. Ainda que as mangakás citadas nessa postagem não sejam necessariamente desse ramo, é de suma importância lembrar que foi aqui onde tudo começou, através do shoujo e do josei, por onde as mulheres conquistaram um espaço de afirmação e legitimação para demonstrar todo o seu potencial como artistas.

Além de ser mangaká, a Umino Chika também trabalha como designer e faz ilustrações, tendo sido responsável pelo character design de Higashi no Eden, por exemplo. Suas obras mais conhecidas são 3-gatsu no Lion e Hachimitsu to Clover, ambas de muito sucesso, que também receberam adaptações para anime.
Ainda que algumas pessoas reclamem do traço dela (principalmente em relação à forma com a qual ela desenha as bocas dos personagens), a escrita da Umino é praticamente impecável. Suas histórias são gostosas de ler (e assistir), pois ela sabe perfeitamente como criar personagens humanos, cenários realistas, situações com as quais conseguimos nos identificar. Em 3-gatsu no Lion, por exemplo, ela conta a história de Rei, um menino que sofre de depressão, e consegue capturar as dificuldades de quem tem essa doença. Já em Hachimitsu to Clover, por sua vez, Umino escreve uma brilhante história de coming of age, onde cada personagem precisa passar por uma transição e superar obstáculos até finalmente atingirem a vida adulta.
Recomendo que leiam/assistam ambas as obras, pois realmente valem a pena. Inclusive, a Gab falou um pouco da adaptação de 3-gatsu no Lion nas impressões finais da temporada passada. Quem tiver interesse, pode conferir clicando aqui. [Edit da repostagem: Infelizmente não conseguimos recuperar a postagem anterior]

Ristorante Paradiso é um josei que conta a história de uma menina que foi abandonada pela mãe (a qual fugiu pra se casar com outro homem) e sonha em reencontrá-la – embora o motivo principal pra isso talvez não seja tão bom assim.
A história em si não tem nada de especial, mas por ser uma obra curta com protagonismo feminino e personagens adultos, pra quem gosta de assistir algo diferente de vez em quando, eu diria que vale a pena dar uma olhada.
ACCA é um seinen policial com umas pitadas de drama e fantasia que conta a história do reino de Dowa, focando em Jean Otus – um inspetor da organização conhecida como ACCA, a qual possui agências espalhadas por todo o território de Dowa.
Ainda que a adaptação tenha enfrentado problemas no início (sobre os quais discorrerei nas impressões finais dessa temporada), na minha humilde opinião, ACCA é o que temos de melhor nessa temporada (excluindo continuações). Gosto de mulheres que se aventuram fora do nicho de shoujo e a Ono Natsume é uma delas.
A Arakawa Hiromu vocês provavelmente já conhecem, mas eu jamais poderia fazer uma postagem dessas e não citar a criadora do melhor shounen de todos os tempos (na minha humilde opinião, é claro): Fullmetal Alchemist. Já falei um pouquinho dela em outras postagens, mas vale a pena lembrar que o nome real dessa mangaká na verdade é Arakawa Hiromi, mas ela foi obrigada a mudar o nome pra “Hiromu” nas publicações, pois muitas pessoas não comprariam um shounen que tivesse sido escrito por uma mulher. É algo absurdo, mas infelizmente acontece. Apesar disso e também da história ser protagonizada por homens (justamente por causa da demografia), a Arakawa fez questão de inserir personagens femininas maravilhosas como a Riza, a Olivier e a Winry.
Além de Fullmetal Alchemist, a Arakawa também publicou outro shounen: Gin no Saji. A obra vendeu mais de 12 milhões de cópias no Japão e foi indicada ao prêmio cultural Tezuka Osamu (em sua 19ª edição). A história conta a dia a dia de Hachiken, um garoto que decidiu se matricular em uma escola agrícola no interior de Hokkaido para fugir do estresse que seus pais o causavam devido às grandes expectativas e pressão que colocavam sobre ele. Gin no Saji traz várias críticas com relação à indústria de alimentos e ao consumismo exacerbado. Além disso, acompanhamos o processo de amadurecimento do Hachiken e seus amigos, muito bem escrito pela autora.
Por fim, temos a Ohtaka Shinobu, criadora do meu shounen preferido: Magi. A Ohtaka é mais uma mulher que rompeu a barreira da demografia e escreveu uma obra incrível, vencedora do prêmio de melhor shounen da 59ª edição do Shougakukan Manga Awards em 2013, e que também foi o 4º mangá mais vendido desse mesmo ano. Além da obra principal ter recebido duas adaptações para as telinhas, o spin-off Magi: Sinbad no Bouken também foi adaptado para anime recentemente.
Ainda que a Ohtaka tenha problemas em desenvolver personagens femininas (posso e devo falar mais sobre isso futuramente), o mangá está cheio de mulheres fortes, independentes e donas de si. Temos imperatrizes, comandantes militares, gladiadoras, magas e o que mais você puder imaginar.
Todo o universo de Magi foi incrivelmente bem construído. É perceptível durante a leitura dos volumes o quanto a autora se esforçou para realmente pensar em tudo, sem deixar pontas soltas em sua história. A obra não é perfeita, mas certamente foi capaz de me fascinar.
Diretoras
Ano passado, o Anime News Network publicou uma lista com sete diretoras de anime cujo trabalho vale a pena ser conferido. São elas: Deai Kotomi (Gin no Saji, Natsume Yuujinchou), Yamamoto Soubi (Meganebu!), Kon Chiaki(Higurashi, Sailor Moon Crystal III), Utsumi Hiroko (Free!), Matsumoto Rie (Kyousogiga, Kekkai Sensen), Yamada Naoko (K-ON!, Hibike! Euphonium) e Yamamoto Sayo (Michiko to Hatchin, Yuri!!! On Ice).
Dessas sete, a Deai Kotomi e a Matsumoto Rie definitivamente são as minhas preferidas. Entretanto, a Yamada Naoko fez um ótimo trabalho com Hibike! Euphonium e vejo a Yamamoto Sayo ser bastante elogiada nas discussões de anime por aí. Utsumi Hiroko também fez um bom trabalho com Free!, ainda que a obra não seja nada de muito especial. Já as outras duas, Yamamoto Soubi e Kon Chiaki, particularmente não conheço, mas vou deixar o link da matéria aqui pra quem quiser dar uma conferida.
Roteiristas
Roteiristas em geral não costumam receber o tipo de reconhecimento que merecem. independentemente da indústria em que trabalham. Apesar disso, não existe obra que fique boa sem um roteiro bem feito, por isso selecionei dois nomes que gostaria de destacar aqui (e que a Gab pretende fazer uma postagem pra falar mais detalhadamente sobre no futuro).
Okada Mari (Ano Hana, Hourou Musuko) é uma das mulheres que tem um nome de peso na indústria, ainda que seja muito criticada por uma parcela da comunidade otaku (em sua maioria homens…). Ela já trabalhou em dezenas de adaptações, tanto de séries quanto de filmes, e fez alguns bons roteiros (Gosick, Nagi no Asukara) e outros terríveis (como Fate/stay night, por exemplo, embora verdade seja dita aquela rota também era a pior de todas da VN).
Yoshida Reiko é uma veterana da indústria que já trabalhou em tanta coisa, mas tanta coisa, que quando fui olhar a lista de trabalhos dela a única coisa que me veio à mente foi “bicha, a senhora é destruidora mesmo, viu?”, caramba! A lista completa de trabalhos dela pode ser conferida clicando aqui, mas eu gostaria de destacar as adaptações de Aria, Shirobako e Tamako Love Story. Recentemente, inclusive, a Yoshida foi premiada no Tokyo Anime Awards na categoria de “melhor roteiro e história original” com Koe no Katachi.
Dubladoras
Rapaz, quem me conhece sabe que eu sou a louca das seiyuus – é só a personagem RESPIRAR que eu sei quem tá dublando (caso seja uma que eu goste, obviamente), por isso eu poderia ficar horas e horas aqui falando de todas essas mulheres maravilhosas que eu amo. Entretanto, pra não estender muito o post (que já está bem longo a essa altura), vou me limitar a citar alguns nomes, sendo eles:
Sawashiro Miyuki: minha preferida de todas. Embora particularmente eu prefira a Sawashiro dublando mulheres adultas, ela é de uma versatilidade e tem um talento que a torna capaz de dublar qualquer coisa! Entre os papéis mais famosos, temos: Celty (Durarara!!), Kurapika (Hunter x Hunter 2011), Himeko (Kokoro Connect) e Hakaze (Zetsuen no Tempest). Ela dubla adultas, senhoras de idade, crianças (meninos e meninas) e o que mais precisar. Que mulherão da porra!
Ohara Sayaka: outra veterana da indústria que com seus 40 e poucos anos continua firme e forte (inclusive dublou algumas das melhores mães dos animes). É conhecida principalmente pelos seus trabalhos como Erza (Fairy Tail), Irisviel (Fate/Zero) e Nitani (Usagi Drop).
Mizuki Nana: muitos dos seus colegas de trabalho a admiram pelo fato de possuir uma potência vocal incrível (apesar dos míseros 1,53 de altura que sempre acabam surpreendendo seus fãs quando eles a veem pela primeira vez pessoalmente). É conhecida principalmente pelos seus papéis como Alois (Kuroshitsuji), Hakuei (Magi) e Hinata (Naruto).
Considerações finais
Como vocês podem ver, apesar de tudo que precisamos enfrentar, há mulheres incríveis trabalhando na indústria dos animes e mangás que tanto amamos. Espero que tenham gostado da postagem, que ela tenha acrescentado alguma coisa e que cada vez mais tenhamos mangakás, diretoras, roteiristas e dubladoras trabalhando com aquilo que gostam e ganhando o reconhecimento que merecem!
Por fim, gostaria de deixar aqui um FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER pra todas as seguidoras do blog! 🙂
Um comentário em “Especial | Dia internacional da mulher: mulheres da indústria dos animes e mangás que você precisa conhecer”