Primeiras impressões: temporada de primavera (2020)

Já fazia algum tempo desde a última vez que tivemos uma temporada com tantas estreias boas! Estamos ansiosos para ver até onde a spring season de 2020 irá nos levar. Nesta postagem vocês encontrarão nossas primeiras impressões de Arte, Fugou Keiji: Balance:UNLIMITED, Kakushigoto, Kitsutsuki Tantei-Dokoro, Major 2nd Second Series, Nami yo Kiite Kure, Otome Game no Hametsu Flag shika Nai Akuyaku Reijou ni Tensei shite Shimatta… e Yesterday wo Utatte.

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Arte [Mari]

Assistir Arte ao mesmo tempo em que estou lendo teóricos que trabalham com a perspectiva de gênero (como Pierre Bourdieu em “A Dominação Masculina”) para a minha monografia foi uma experiência no mínimo interessante. Embora em um primeiro momento Arte nos leve a acreditar que o que impulsiona a protagonista para correr atrás do seu sonho de se tornar uma artista seja o seu amor pela arte, logo descobrimos que essa é apenas a pontinha do iceberg. Arte desafia todas as normas e expectativas sociais de sua época: não só porque ela quer seguir um caminho trilhado exclusivamente por homens, mas também porque ela rejeita a noção de que o casamento representa tudo na vida de uma mulher. Arte enfrenta sua mãe e vai em busca daquilo que ela acredita, mesmo que isso possa lhe render arrependimentos mais pra frente, porque ela quer pelo menos ter o direito de escolher como vai viver a sua vida. Se for para se arrepender, que seja por uma escolha que ela fez e não por algo que os outros decidiram por ela.

Há diversos momentos no primeiro episódio que renderiam uma discussão mais aprofundada, mas eu gostaria de destacar a cena em que Arte abre mão da sua identidade como mulher. Embora cortar o cabelo possa ter diferentes significados na vida de uma pessoa, aqui essa atitude representa algo muito específico: é uma forma de se desfazer de um dos traços mais comuns da feminilidade que, por sua vez, é o que caracteriza uma mulher perante à sociedade. Mais do que uma mudança drástica ou um novo começo, nessa cena Arte está dizendo que “se é a minha identidade como mulher que é um problema, então eu vou dar um fim nela”, o que é reforçado pela sua ameaça de cortar os próprios peitos também. As falas e as atitudes de Arte mostram como o gênero, diferente do sexo biológico, é uma construção social.

Eu também achei interessante o contraste estabelecido entre Arte e Leo: apesar de pertencerem a classes sociais distintas, ambos tentam superar as barreiras impostas a eles. Leo quer fugir da sua condição de pessoa pobre e Arte quer fugir da sua condição de mulher (e do casamento forçado ao qual ela inevitavelmente seria submetida). São recortes diferentes, mas Arte e Leo encontraram uma saída comum e é isso que torna a dinâmica dos personagens tão interessantes. Meu único receio é que essa relação tome um rumo amoroso em algum momento, o que não seria uma surpresa devido à época em que a história se passa, mas pra mim, isso faria com que ela perdesse o seu propósito.

Quanto à parte técnica, eu não tenho do que reclamar. Nunca fui muito fã do estúdio, mas a julgar pela quantidade de material divulgado antes mesmo da estreia do anime, dá para presumir que a produção está bastante adiantada e por isso deve manter a qualidade da animação do primeiro episódio. Yoshida Reiko, como sempre, entregou um ótimo roteiro, e eu estou ansiosa para ver o quão longe Arte conseguirá chegar.

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Fugou Keiji: Balance:UNLIMITED [Lucy]

O sucesso inesperado da temporada — se você acessou o Twitter entre quinta-feira e hoje, já deve ter cansado de ver o rosto do protagonista de Fugou Keiji. E é compreensível, é um anime com character design bonito, mas só tem um problema…

A premissa do anime é interessante: um milionário (bilionário?) que usa seu dinheiro para resolver crimes e mistérios, acompanhado de um rapaz simples e passional, para criar contraste. É no parceiro Haru que eu deposito um pouco da minha fé, porque é difícil se engajar com uma história cujo protagonista é insuportável. Com seu ar arrogante, Daisuke me empurrou para bem longe do fã-clube que ele ganhou ao longo dos 24 minutos. Claro que me disponho a tentar, há muitas chances para que ele se desenvolva e melhore, mas por hora, a minha vontade é de meter um soco nele.

Com isso fora do caminho, podemos seguir para o resto do episódio. Apesar da minha cisma com o protagonista, até que gostei do que vi. É bem típico em sua função de apresentação, sem perder muito tempo antes de partir para a ação. A comédia é pontual — acabei gostando mais dos vilões atrapalhados do que dos heróis — e a animação é de qualidade (destaques positivos para as sequências de abertura e encerramento). Aliás, fico aliviada em ver que o estúdio CloverWorks (The Promised Neverland, Bunny Girl Senpai) tem conseguido se manter relativamente estável em suas produções, apesar dos tropeços frequentes.

A questão é: para onde iremos daqui? Ainda não é possível especular nada sobre o rumo dos próximos episódios, tirando o fato de que Daisuke e Haru terão que aprender a cooperar um com o outro. Não faltam perguntas na minha mente depois da estreia, e considero isso um ótimo ponto. Por que Daisuke escolheu especificamente uma divisão policial tão maçante? Que tipo de caso pode aparecer por lá que vá exigir tanto dinheiro sendo gasto? Quem é a moça bonita que aparece na abertura??

Terei que continuar aguentando o protagonista pra descobrir.

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Kakushigoto [Lucy]

Na situação atual, toda boa comédia é bem-vinda. Kakushigoto é leve e divertido — uma ótima pedida pra relaxar um pouco. Apesar de alguns trocadilhos linguísticos aqui e ali, não é uma obra de difícil acesso ou que demande muito do espectador. A arte, apesar de simples, é muito bonita. Em resumo, é um anime confortável.

Apesar da premissa limitada (quantas piadas você pode criar a partir do conceito de um pai que esconde seu emprego da filha?), parte do problema já é resolvido de imediato: ao expandir o elenco, acrescentando os assistentes do artista e as colegas de turma da menina, multiplicam-se as situações possíveis. Isso é ótimo, visto que fica mais difícil das piadas ficarem cansativas rapidamente. A outra parte da execução da história que me agradou é a quebra da expectativa: o episódio começa com a filha, já adolescente, finalmente descobrindo o segredo do pai. A alternância entre passado e futuro apresenta uma mudança de tom bem forte, mas intrigante.

O único contraponto que tenho não é nem relativo ao anime em si, e sim ao autor do mangá original. Tenho sentimentos conflitantes por Kouji Kumeta. Conheci Sayonara, Zetsubou-sensei quando bem nova — nova demais pra entender certas piadas, especialmente as de cunho revisionista — mas no fim das contas, me apeguei à identidade visual da obra e me interessei pelo humor com uma pegada dark, diferente de tudo que eu tinha consumido até então. Mesmo com diversas ressalvas, continua sendo um dos meus mangás favoritos até hoje. A luz no fim do túnel é que dado o tom leve e o elenco infantil de Kakushigoto, esse tipo de “crítica social foda” não deve sair da boca dos personagens.

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Kitsutsuki Tantei-Dokoro [Ana]

Dois episódios de Kitsutsuki Tanteidokoro já foram ao ar e eu estava um tanto reflexiva quanto as minhas impressões sobre ele. Essa é mais uma obra que foi desenterrada dos anos 90, mas embora a novel seja de 1999, a história se passa na era Meiji e segue versões ficcionais do poeta Takuboku Ishikawa e do linguista Kyōsuke Kindaichi.

Logo no início já nos é informado que Ishikawa faleceu há 10 anos e a história seria então memórias do Kindaichi sobre seu amigo e parceiro Ishikawa como investigador particular. Os dois são bastante diferentes em estilo e personalidade, enquanto Kindaichi é o típico rapaz com bom coração, experiências românticas ou sexuais nulas, Ishikawa aparenta viver de forma mais despreocupada, já que mal tinha dinheiro para pagar o aluguel e isso não parecia o abalar muito. É interessante como a profissão de investigador pareceu escolher Ishikawa e não o contrário ao solucionar um crime no primeiro episódio e, como viver de poesia não lhe renderia muito dinheiro, como dito por ele mesmo, resolveu investir no negócio.

No entanto algumas coisas são conflitantes com a sinopse que nos fora previamente liberada, em que dizia que os dois investigariam um suposto fantasma assombrando um edifício, mas até então nada aparentemente sobrenatural foi nos apresentado, talvez não tenhamos chegado ao caso principal do anime. Ainda, senti no primeiro episódio um desenrolar um tanto lento, mas já percebi uma melhora quanto a isso no episódio seguinte.

Eu gostei bastante da ambientação, da caracterização dos personagens e da animação. Ainda, por mais que saibamos da morte do Ishikawa, não sabemos como ele morreu, e não apenas esse mistério deixado no ar, como o que ficou no final do segundo episódio, num crime em que o próprio Kindaichi está sendo acusado, me motivam a continuar assistindo. Não me parece que a história será algo muito excepcional, mas a maneira como Ishikawa age e busca solucionar os casos é realmente interessante. Além disso, outros personagens, também investigadores, nos foram brevemente apresentados no final do segundo episódio, assim também fico curiosa para ver como serão as interações, amigáveis ou conflituosas, entre eles e os nossos protagonistas.

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Major 2nd Second Series [Mari]

Se eu pudesse sair panfletando Major 2nd por aí, eu iria, mas já que a situação do coronavírus não me permite, vou fazer isso aqui mesmo: POR FAVOR, SE VOCÊ SE CONSIDERA FÃ DE ANIMES DE ESPORTE, ASSISTA MAJOR 2ND!!! Eu até entendo o motivo de Major 2nd não ser muito popular já que a série original é relativamente antiga e tem muitos episódios, o que acaba afastando as pessoas da franquia, mas acreditem em mim quando eu digo que vale a pena. Embora seja bacana assistir a série original para pegar as referências que Major 2nd inevitavelmente fará, é possível assisti-lo sem ter visto o primeiro Major, pois são protagonistas diferentes e portanto histórias que não dependem uma da outra para serem compreendidas.

Eu sou suspeita a falar, é claro, mas Major 2nd Second Series foi a melhor estreia da temporada pra mim – pelo menos em termos de entretenimento. Como no Major original, uma temporada nova significa que acompanharemos um novo estágio da vida do protagonista. Enquanto no primeiro Major 2nd nós fomos apresentados aos personagens e acompanhamos o desenvolvimento individual de cada um, no Second Series já temos um Daigo mais maduro e um time estabelecido, dando a entender que dessa vez o foco do desenvolvimento será coletivo. Eu gostei muito de ver como o Daigo confrontou os alunos novos que haviam desrespeitado as meninas do time – o que é outro enorme ponto positivo de Major 2nd – por meio do beisebol sem ter que utilizar o nome e a fama de seu pai como muleta. Eu amei como o autor não fez distinção entre meninos e meninas, mostrando que ambos são igualmente capazes de realizar performances esportivas incríveis, e estou ansiosa para ver quais papéis serão desempenhados por elas nesta temporada.

Não posso deixar de mencionar como a produção melhorou em aspectos visuais também: a animação está mais fluida do que na temporada anterior, o character design está mais bonito, e a abertura é um completo BOP. Honestamente, com base apenas no primeiro episódio, eu diria que o OLM está dando de 10 a 0 na Madhouse, que deixou a desejar em sua última adaptação de Diamond no Ace. Espero que continuem assim!

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Nami yo Kiite Kure [Mari]

O primeiro episódio de Nami yo Kiite Kure foi uma experiência… intensa. Eu não conheço praticamente nada do mundo do rádio, então pra mim fica difícil falar em verossimilhança, mas eu gostei da estreia. O jeito da protagonista é bastante… único, digamos assim, motivo pelo qual as reações a ela serão bastante polarizadas: muitas pessoas vão amar, mas muitas também vão odiar. No meu caso, embora eu tenha me perguntado algumas vezes como ela faz pra respirar, eu gostei. Minare é sincera e destemida: o tipo de pessoa que fala o que dá na telha (mesmo que depois possa se arrepender disso).

Vai ser interessante ver como a nossa protagonista vai fazer para dar conselhos a outras pessoas ao mesmo tempo em que sua vida está uma bagunça (sobretudo no aspecto romântico). Aliás, fiquei positivamente surpresa com a performance da seiyuu dela, Sugiyama Riho, que é basicamente uma novata na indústria e mesmo assim entregou uma performance perfeita, inclusive pronunciando “pão de queijo” corretamente!!! (Os gringos sempre se atrapalham com sons nasais). Eu definitivamente ouviria um programa de rádio estrelado por ela.

Quanto à parte técnica, eu achei OK. A única coisa que me incomodou foi o detalhe da sombra nos olhos dos personagens, que é algo que não estamos acostumados a ver e por isso acabou me distraindo algumas vezes. Espero que isso não se torne um problema.

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Otome Game no Hametsu Flag shika Nai Akuyaku Reijou ni Tensei shite Shimatta… [Lucy]

Hamefura”, como os japoneses estão chamando a obra, é uma mistura de vários gêneros que, por si só, já são bastante controversos e polarizantes. Isekai, harém reverso, “preso em um videogame”… O que pode sair da união disso?

O resultado é uma comédia maravilhosa, mas que deve muito à sua protagonista. Catarina é atrapalhada, desesperada, um pouco desatenta e extremamente carismática. Ao notar a situação na qual se encontra — no lugar da vilã de um otome game que jogou em sua vida anterior, começa a tramar diversas maneiras de evitar os destinos cruéis que poderá encontrar em dentro de alguns anos.

Um destaque do anime é a dubladora Maaya Uchida, cuja performance dá um charme extra à protagonista, especialmente nas cenas do “conselho das Catarinas” (onde a menina tem intensos diálogos internos com várias partes de sua personalidade). Já quanto aos aspectos visuais, é possível ver que essa não é uma produção muito ambiciosa; porém, é eficiente em carregar o humor das situações.

Apesar de ter sua estrutura baseada em jogos de romance, garanto que não é necessário ser fã deles para aproveitar esse anime. Apesar dos meninos que cercam Catarina serem todos arquétipos do gênero, pelo menos de acordo com suas apresentações iniciais, as homenagens aos otome games não vão muito além disso. Aliás, uma empolgante observação: o futuro harém da protagonista (como mostrado na abertura) é bem diversificado, com um número quase igual de meninos e meninas. Ainda não dá pra saber se a comédia vai abrir espaço para um romance mais tarde, mas pelo menos esse já é um ótimo ponto de partida.

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Yesterday wo Utatte [Ana]

Acho que não é novidade o quanto a gente aprecia quando decidem adaptar uma obra que aborda questões da vida adulta como é o caso de Yesterday wo Utatte, e logo de cara, apesar de ter visto apenas um episódio, tive uma primeira impressão bastante positiva.

Talvez porque o anime traga um protagonista que é bastante identificável. Rikuo está no início da vida adulta, recém graduado na faculdade, mas se contenta com um emprego de meio período em uma loja de conveniências. Percebemos ao longo do episódio que Rikuo meio que tenta se desvencilhar dos desafios da fase da vida em que se encontra e que na verdade essa é uma característica presente na sua vida de maneira geral, já que ele se mostra sem muitas ambições e até autodepreciativo. Isso fica claro quando reencontra Shinako, sua ex-colega de faculdade, que ao contrário dele, embora também enfrente seus próprios problemas, já iniciou uma carreira como professora. Também é nítido que Rikuo nutria sentimentos por ela há bastante tempo, mas não tivera a coragem de expor isso até então, no entanto não vemos os sentimentos dele serem correspondidos.

Ainda, nós somos também apresentados à Haru, uma menina mais excêntrica e misteriosa que possui um corvo de estimação e parece viver a vida de uma maneira mais despreocupada, mas que na verdade também tem suas próprias questões, como o abandono dos estudos. Apesar de num primeiro momento parecer que Rikuo não a conhecia, posteriormente nos é revelado que eles já haviam se encontrado há muito tempo. O que me deixa um pouco com o pé atrás é o fato de um triângulo amoroso se estabelecer no sentido de Haru ter sentimentos por Rikuo, mas ela parece ser bem mais nova que ele. No entanto, as coisas aconteceram de forma lenta e natural, deixando a construção das relações mais realista.

Além disso, achei interessante como a história já se inicia com reencontros, mas também com rejeições. Esse fato poderia ser ainda mais desencorajador para alguém como Rikuo, mas acredito que sua relação recém estabelecida com Haru possa levar a mudanças drásticas na maneira com que tem vivido até então. Gostei também da ambientação nos anos 90, que fica nítido com as fitas cassetes e grandes computadores brancos de mesa. Acredito que tenham decidido manter a ambientação original, já que a obra começou a ser serializada em 1997. Gostei da animação até então e do design dos personagens e acho que o anime tem potencial para que eu continue gostando.

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5 comentários em “Primeiras impressões: temporada de primavera (2020)

  1. Estou ansioso por alguns títulos dessa temporada, mas eu gosto de esperar que sejam finalizados para que eu possa maratonar, o que me preocupa um pouco, porque a temporada mal estreou e já tem anime que já está anunciando o adiamento dos novos episódios , como é o caso de “Houkago Teibou Nisshi” 😦

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  2. Arte em minha opnião é uma obra incrivel, dizer que não importa o nosso gênero, nós podemos escolher o caminho a seguir em nossas vidas, muito além de “mulher deve ser isso” e “homen deve ser aquilo, nós como pessoas não precisamos nos limitar a isso, a obra também fala sobre o esforço, mostrar que a dedicação ao que queremos fazer é essêncial, o machismo da época que a obra quer nos mostrar como o genênero feminino sofre para ser diferente do que a sociedade diz que deve ser. Bom, eu tenho boas espectativas ao anime.

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